A morte do
futebol arte
É com pesar que
informo a você, caro leitor, com menos de 30 anos e que gosta de futebol: O
futebol arte morreu.
Tudo bem. Eu sei
que estou dando essa notícia com trinta e um anos de atraso. Mas, embora o
defunto já esteja em adiantado estado de decomposição, há alguns menos
informados que não sabem disso. Falei do crime, agora digo quem é o culpado. A
culpa é do Chulapa. De quem? Do Chulapa? Do Serginho Chulapa? Aquele
centroavante trombador do São Paulo, da década de 80? Sim. Serginho Chulapa. Eu
explico.
Na melhor
seleção de todos os tempos, a seleção de 1982 – vai de brinde a escalação: Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luisinho e
Júnior, Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico, Serginho Chulapa e Éder - coincidentemente,
as únicas feridas da seleção eram os atletas com dois nomes. O resto era
craque. Mas, sinceramente, o que esperar de alguém que aceite responder pela
alcunha de Chulapa? Boa coisa não há de ser – o técnico Telê Santana convocou
Serginho Chulapa, e deixou Roberto Dinamite, Careca e Baltazar de fora. Deu no
que deu. Para os menores de 30 anos, segue o relato abaixo:
“Na copa de
1982, aos 10 minutos da partida válida pela semifinal contra a Itália, Sócrates
avançou pelo centro, lançou Serginho Chulapa, que ganhou da zaga italiana e,
quando Zico penetrou, livremente, para marcar o gol, Chulapa entrou na frente
do craque brasileiro e chutou bisonhamente à direita do goleiro Zoff, e voltou
para o meio do campo, sorrindo.”
Congele a
imagem. Está vendo os dentes brancos nesse largo sorriso de Serginho Chulapa? Nunca
mais o futebol brasileiro sorriria da mesma maneira. Esse foi o momento exato
da morte do futebol arte. Se o gol tivesse saído, o Brasil teria sido o Campeão
Mundial de 1982. O futebol alegre e vistoso seria o parâmetro para as futuras
gerações. Hoje, não teríamos que agüentar o Felipão escalando três volantes.
O Brasil perdeu,
e o resultado foi uma profunda transformação no futebol mundial, com o
pragmatismo de um estilo defensivo imperando nos campos até hoje.
O golpe de
misericórdia ao futebol arte veio com o maldito título mundial de 1994. Num
país que tem Zico, Sócrates, Falcão, Júnior e Cerezo, advinhe quem são os últimos
campeões mundiais? Dunga e Felipão, e seus discursos de futebol competitivo.
Futebol competitivo? Prefiro as lágrimas artísticas de 1982 aos risos retranqueiros
de 1994 e 2002.
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