É tarde para conquistar Constantinopla
O humorista
Groucho Marx dizia não ter ido assistir ao filme Sansão e Dalila, pois sabia
que não iria gostar de um filme em que "o mocinho" (Victor Mature)
tinha mais peito que a "mocinha" (Hedy Lamarr). Pois eu também nunca
mais ouço um discurso do ex-governador, Casildo Maldaner, justamente pelo
motivo contrário. Sua mulher tem mais peito que ele. Eu explico. Casildo
recebeu, na última quarta-feira, o título de Cidadão Catarinense, em uma
solenidade na Assembleia Legislativa, em Florianópolis. Eu me desloquei de
Corupá até a capital, numa Van apertada, por cerca de 2 horas e meia, aturando
contadores de piada sem nenhuma vocação para o humorismo, na esperança de ouvir
de Casildo uma de suas tiradas geniais. Levei meu “Cacildário” para me servir
de companhia durante a viagem. Num arroubo de empreendedorismo, me imaginei
usando trechos dos novos discursos de Casildo para elaborar uma nova edição do
“Casildário”. “O Novo Casildário”, pensei em usar como título. Decepção. Na
hora “H” (depois de ser obrigado a escutar quase duas horas de outros
discursos, tais como o do líder da oposição, o petista Jaílson Lima, que,
pensando estar elogiando os homenageados, comparou-os a Che Guevara, aquele
mesmo, o herói que aprovou,
pessoalmente, centenas de execuções sumárias pelo tribunal revolucionário de
Havana. Aquele mesmo que disse: “As execuções são uma necessidade para o
Povo de Cuba, e um dever imposto por esse mesmo Povo.” Depois de ser obrigado a, tal qual nos
tempos de escola, assistir a uma aula enfadonha, pelo não menos enfadonho Neuto
de Couto, sobre a Guerra do Contestado, reprisando nomes de heróis como o de Maria Rosa, a Joana D'Arc
do sertão; José Maria de Santo Agostinho (não, esse ele
não citou, pois, na verdade, José Maria
era o codinome usado pelo paranaense Miguel Lucena de
Boaventura, um soldado desertor condenado por estupro).
Por fim, após todo esse martírio, Casildo caminha em direção ao púlpito
e diz:
- “Na verdade,
eu pensei em falar de improviso. Mas, minha mulher me lembrou que essa era uma
ocasião formal. Ela disse: “Não inventa Casildo”. Portanto, vou ler um texto
que eu produzi.”
Lá se foram
mais duas horas de outro aborrecido discurso.
Mas onde foi
parar o Casildo que confundia Rio Aipim com Rio Mandioca? O Casildo dos “bagos
roxos” de alho? O Casildo que até a Padre já foi candidato? O Casildo que se
preocupa com “todo o ambiente” e não apenas com “meio ambiente”?
Sim. Foi ela.
Ivone Maldaner. A Dalila de Carazinho, que usou a tesoura nos cabelos da
criatividade de nosso Sansão Maldaner, roubando-lhe a força de sua
espontaneidade.
Agora, talvez
seja tarde para conquistar Constantinopla.
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