sábado, 6 de dezembro de 2014

É tarde para conquistar Constantinopla

O humorista Groucho Marx dizia não ter ido assistir ao filme Sansão e Dalila, pois sabia que não iria gostar de um filme em que "o mocinho" (Victor Mature) tinha mais peito que a "mocinha" (Hedy Lamarr). Pois eu também nunca mais ouço um discurso do ex-governador, Casildo Maldaner, justamente pelo motivo contrário. Sua mulher tem mais peito que ele. Eu explico. Casildo recebeu, na última quarta-feira, o título de Cidadão Catarinense, em uma solenidade na Assembleia Legislativa, em Florianópolis. Eu me desloquei de Corupá até a capital, numa Van apertada, por cerca de 2 horas e meia, aturando contadores de piada sem nenhuma vocação para o humorismo, na esperança de ouvir de Casildo uma de suas tiradas geniais. Levei meu “Cacildário” para me servir de companhia durante a viagem. Num arroubo de empreendedorismo, me imaginei usando trechos dos novos discursos de Casildo para elaborar uma nova edição do “Casildário”. “O Novo Casildário”, pensei em usar como título. Decepção. Na hora “H” (depois de ser obrigado a escutar quase duas horas de outros discursos, tais como o do líder da oposição, o petista Jaílson Lima, que, pensando estar elogiando os homenageados, comparou-os a Che Guevara, aquele mesmo, o herói que aprovou, pessoalmente, centenas de execuções sumárias pelo tribunal revolucionário de Havana. Aquele mesmo que disse: “As execuções são uma necessidade para o Povo de Cuba, e um dever imposto por esse mesmo Povo.” Depois de ser obrigado a, tal qual nos tempos de escola, assistir a uma aula enfadonha, pelo não menos enfadonho Neuto de Couto, sobre a Guerra do Contestado, reprisando nomes de heróis como o de Maria Rosa, a Joana D'Arc do sertão; José Maria de Santo Agostinho (não, esse ele não citou,  pois, na verdade, José Maria era o codinome usado pelo paranaense Miguel Lucena de Boaventura, um soldado desertor condenado por estupro). Por fim, após todo esse martírio, Casildo caminha em direção ao púlpito e diz:
- “Na verdade, eu pensei em falar de improviso. Mas, minha mulher me lembrou que essa era uma ocasião formal. Ela disse: “Não inventa Casildo”. Portanto, vou ler um texto que eu produzi.”
Lá se foram mais duas horas de outro aborrecido discurso.
Mas onde foi parar o Casildo que confundia Rio Aipim com Rio Mandioca? O Casildo dos “bagos roxos” de alho? O Casildo que até a Padre já foi candidato? O Casildo que se preocupa com “todo o ambiente” e não apenas com “meio ambiente”?
Sim. Foi ela. Ivone Maldaner. A Dalila de Carazinho, que usou a tesoura nos cabelos da criatividade de nosso Sansão Maldaner, roubando-lhe a força de sua espontaneidade.

Agora, talvez seja tarde para conquistar Constantinopla.

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