A cara da Chita
Brian Vinícius é o nome do “Petit Capiroto”. Algum artista
de uma nova banda Emo? Ator de Malhação? Cantor de dupla sertaneja? Não. Embora
esse nome pudesse servir a qualquer uma dessas opções, o Brian Vinícius da vez
é, além de vítima da desenfreada criatividade que minha cunhada usa ao nomear seus
filhos, sobrinho da minha mulher. Tem apenas 9 anos o pequeno “Anhangá”. Mas
não se apresse no julgamento tendo como base apenas a idade desse pequeno e adorável
“Nosferato”. Exagero nos adjetivos? Saiba que, se você está lendo esse texto, é
devido ao meu heroísmo estóico. O pequeno Brian, da hora em que eu sentei em
frente ao computador para escrever essa coluna (por volta das 5 da tarde), até
o presente momento (9 da noite), ele não cessa o seu bombardeio de perguntas
sobre mim. Nos primeiros dez minutos, eu cheguei a elogiá-lo para sua mãe.
“Parabéns pelo filho. A curiosidade é própria de gente inteligente.” Esse
elogio apenas provou uma coisa. A minha falta de inteligência. O “Tisnado” do
menino tomou o meu elogio como um incentivo para uma nova e infindável bateria
de perguntas. Mas chega de adjetivar a pequena “Bestafera”. Vamos ao ponto. Eu
só não interrompi o fluxo de ar entre a garganta e os pequenos pulmões do “Galhardo”
porque foi justamente de uma pergunta sua que brotou o gancho para que eu
pudesse abordar um assunto que há muito acalento. (Eu prometo que vou adjetivar
só mais uma vez o “Barzabu”). O “Mafarrico” me perguntou por que é que as
letras do teclado do computador eram dispostas da maneira como são. Respondi
que, quando o inglês Christopher Sholes patentou o teclado da
máquina de escrever (tive que explicar o
que era uma máquina de escrever e, mais que isso, tive que mostrar uma máquina
de escrever a ele. Ao final da demonstração, o comentário dele foi quase um
prêmio para mim. Ele disse: “Isso aqui é melhor que computador. A gente escreve
e ela já imprimi na hora.”) ... voltando ao Sholes... ele dispôs as teclas de modo que os pares de letras
utilizados com maior frequência na língua inglesa ficassem separados em metades
opostas do teclado, numa tentativa de evitar o travamento do mecanismo das
rudimentares máquinas do século XIX. Assim sendo, a explicação para a
atual disposição das teclas, é que esse é o modo mais difícil para se digitar. Ouvindo
isso, o pequeno Brian respondeu: “Que paradoxal.” É claro que é mentira. Se ele
tivesse mesmo dito isso o nome dele não seria Brian, e sim Albert.
Enfim. Essa epifania me revelou que o mundo funciona
exatamente assim. As coisas são o seu oposto. O telefone público (essa popular invenção
brasileira do “Orelhão”) amplifica os sons externos e inviabiliza qualquer
conversa. Faz justamente o oposto do que se espera dele. Dia desses, ouvindo o
rádio, eis que ouço a seguinte pérola: “105 Fm, aqui só toca sucesso”. Até aí
tudo bem. Mas, na sequência. “105 Fm, a diferença é a música.” Pera lá. Ou só
toca sucesso, e então toca as mesmas músicas de todas as outras rádios que só
tocam sucesso, e então a diferença não é a música. Ou toca músicas diferentes,
e que não são, portanto, sucesso.
Enquanto isso, o adorável Brian resolve que a sala onde
estamos, agora, é uma selva. Ele é o Tarzan. Sua mãe, a Jane. Então, ele olha,
ternamente, no fundo dos meus olhos e me diz: “Você é a cara da Chita”.
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