Décadence
avec élégance
O melhor filme a
que eu já assisti na vida, até hoje, foi “Os Imperdoáveis”, de Clint Eastwood.
Eu já vi a esse filme, de 1993 até hoje, sem exagero, umas 128 vezes. Decorei
todas as falas, todas as cenas, luzes. Tudo. Não entendo nada de cinema, mas
sou Phd em “Os Imperdoáveis”. Em determinada altura do filme, como em todo
faroeste, chega o momento crucial em que Clint Eastwood, um cowboy sangue frio
do Missouri, e Gene Hackman, um xerife desonesto, se enfrentam e lançam mão da
célebre frase: “Essa cidade é pequena demais para nós dois.”
Corupá, em
vários aspectos, faz lembrar aquela remota cidade do Wyoming onde o filme foi
ambientado. Não fosse os cabelos brancos, Sandro Basso seria o próprio Gene
Hackman. Até as histórias dos dois tem ligações. Hackman, após ter saído de
casa aos 16 anos, foi fazer jornalismo na Universidade de Illinois, aí resolveu
abandonar a faculdade e fazer um curso técnico de rádio. Por fim, resolveu
tentar a carreira de ator e se matriculou na Pasadena Playhouse, na California.
A Secretaria de Educação voltou a oferecer curso de teatro. Sandro Basso
poderia se inspirar na vitoriosa trajetória de Gene Hackman e ir estudar artes
cênicas. Já ficou provado que jornalismo e rádio não são a praia de Sandro
Basso. Quem sabe ele, tal qual Hackman, descubra sua real vocação. Na última
edição do Jornal de Corupá (alguém chegou a ler?) a primeira manchete é: “União
faz a força.” Essa manchete é o suprassumo da falta de criatividade. É quase um
antijornalismo. Essa expressão está mais gasta do que a fórmula mocinho-bandido
dos Faroestes. Mais gasta que o já estereotipado tema de redação: “Minhas
férias.” Vou lançar uma campanha e conto com a sua ajuda, leitor. O mote da
campanha será: “Queremos Sandro Basso fazendo teatro.” Seria uma despedida
gloriosa. O que está lastimável é ver Sandro Basso e seu Jornal de Corupá
publicando matérias com até 30 dias de atraso. Sandro me lembra o Garrincha em
final de carreira. Gordo, sem habilidade, vivendo apenas do nome e daquilo que
ele foi um dia, e já sem o menor tato com a bola. O Ronaldo Fenômeno está
incorrendo no mesmo erro que Garrincha e Sandro Basso. Deu pena ver o Ronaldo matar
de canela as duas bolas que, em quase 30 minutos, ele conseguiu chegar. Se o
exemplo de Gene Hackman não seduz Sandro Basso, sugiro que siga os conselhos do
cantor e compositor Lobão: "Décadence avec élégance."
Se você fosse sincera, ôôôôôô,
Aurora
O Carnaval começa amanhã. Não vou
poder viajar. E como eu não vou poder viajar, vou dizer a quem me perguntar que
não gosto de carnaval. Vou dizer que não queria mesmo viajar. Igual aquela
velha história das raposas e das uvas. Ou da história, mais recente, de Sandro
Basso, dizendo que não se importa com a velocidade da informação. Já que uma
viagem está fora de cogitação, tratei de pegar emprestado um bom livro de
Machado de Assis para me fazer companhia nesse feriado prolongado. Escolhi a
“Teoria do Medalhão”.
Sei que é difícil achar quem
goste de Machado de Assis. Sei que muitos o acham aborrecido. Entretanto, ler
Machado de Assis nos ajuda, até, a entender certas coisas que acontecem bem
perto de nós. E pode, inclusive, nos livrar de certas situações
constrangedoras. Quer ver? O vereador
João do PT não leu Machado de Assis. Se leu, não entendeu a ironia ou não leu o
que deveria. Se tivesse lido, não teria feito o papelão que fez durante a
primeira sessão ordinária do ano na Câmara de Vereadores.
Se João do PT tivesse lido a
“Teoria do Medalhão”, por exemplo, de
Machado de Assis, ao invés de ter lido “O Manifesto Comunista”, ou “Raízes do
Brasil”, ou ainda “O Capital”, ele não teria usado a tribuna para condenar algo
que ele mesmo praticou.
Não precisaria ter lido o livro
todo. Embora curto, poderia ter lido apenas alguns parágrafos. Seria o
suficiente para livrá-lo da situação embaraçosa que ele teve que enfrentar no
último dia 16.
Se João do PT não vai ao Machado
de Assis, Machado de Assis vem ao João do PT.
O parágrafo redentor a que eu me
referi é o que segue abaixo:
“- Se for ao Parlamento, posso
ocupar a tribuna?
- Podes e deves; é um modo de
convocar a atenção pública. Quanto à matéria dos discursos, tens à escolha: -
ou os negócios miúdos, ou a metafísica política, mas prefere a metafísica. Os
negócios miúdos, força é confessá-lo, não desdizem daquela chateza do bom-tom,
própria de um medalhão acabado; mas, se puderes, adota a metafísica; - é mais
fácil e mais atraente. Supõe que desejas saber por que motivo a 7ª companhia da
infantaria foi transferida de Uruguaiana para Canguçu; serás ouvido tão somente
pelo ministro da Guerra, que te explicará em dez minutos a razão desse ato.
Não assim a metafísica. Um discurso de metafísica política apaixona
naturalmente os partidos e o público, chama os apartes e as respostas.”
O grifo é meu. De mim para João.
Com afeto.
Para quem prefere pular carnaval
e não leu, e nem vai ler, a “Teoria do Medalhão” de Machado de Assis, e
tampouco esteve presente à Câmara no último 16, saiba que o ponto que une esses
dois assuntos é o seguinte: João do PT já declarou, em outras ocasiões, que
nunca usou contas adiantamento ou diárias, enquanto ocupou a Chefia da Divisão
de Esportes. Acontece que a Presidente da Câmara, a vereadora Margot Hauffe,
preparou um farto material onde fica comprovado que, diferente do que o
vereador diz, ele usou sim, enquanto Chefe da Divisão de Esportes, tanto as
diárias quanto as contas adiantamento. Inclusive com valores acima de mil
reais. João do PT não deu ouvidos ao Machado de Assis e foi tratar de “negócios miúdos”. Deu no que deu.
Preferisse a metafísica, tal como falar do Partido dos Trabalhadores, como de
fato deu indícios de que faria, teria evitado a dolorosa e primeira lambada da
nova legislatura. Muitos podem achar esse episódio irrelevante, mas não é. Ele
pode, inclusive, direcionar as futuras votações. O mancebo Sidnei Schwerdtner está em busca de um líder. Pensou
ter achado esse líder no João do PT. Mas, ao ver a primeira investida do futuro
mestre dar em nada, é possível que tenha repensado sua decisão.
Sei que
se ele olhar para o seu lado direito, as ofertas não são muita melhores. Isso
pode, inclusive, resultar em algo pior. Ele pode eleger como seu guru o
Everaldo Mokwa. Para os que gostam de Machado de Assis, o texto acaba aqui.
Para quem gosta de carnaval e do PT, segue uma marchinha:
“Se você fosse
sincera
Ô ô ô ô Aurora
Veja só que bom que
era
Ô ô ô ô Aurora”.
Não
elogio mais
Na última
terça-feira, eu assisti ao amistoso da seleção brasileira contra a Itália. Em
determinada altura do jogo, resolvi, gratuitamente, e sem nenhum propósito,
elogiar a narração de Galvão Bueno. Não gosto do Galvão Bueno. Pelo contrário.
Acho ele intragável. Eu o vejo como uma espécie de filósofo do óbvio. Eu estou
vendo que a bola foi lançada. Não preciso da ajuda dele para perceber que bola foi
a escanteio, por exemplo. Não se passaram cinco minutos para que eu me
arrependesse de tê-lo elogiado. E o arrependimento me atacava agudamente a cada
vez que ele insistia em chamar o goleiro da Itália, cujo nome é Gianluigi
Buffon, de “Gianluca” Buffon. Se ele estivesse narrando um jogo qualquer, como
Joinville e Figueirense, por exemplo, e tivesse chamado de Fábio, ao invés de
Fabiano, o goleiro do Joinville, tudo bem. Acontece que estamos falando do
goleiro mais famoso do planeta, o campeão da última Copa. O goleiro da Itália
em 1994, sim, era Gianluca, o Pagliuca. Bem feito pra mim. Elogiar é sempre
perigoso. Na coluna da edição 35, de 24 de janeiro, eu incorri no mesmo erro.
Gratuitamente, e sem nenhum propósito, eu elogiei a atitude do vereador João do
PT por ele ter chamado à câmara o senhor Norberto Müller, para prestar
esclarecimentos sobre a prestação de contas dos Bombeiros. Fiz mais que isso.
Disse que ele havia começado bem. Eu não aprendo mesmo. Foi só elogiar e ele
fez lambança. João do PT é o Galvão Bueno da massa sindical. É o nosso
filósofo do óbvio.
Na sessão seguinte àquela a qual eu o elogiei, o vereador achou por bem dar um
parecer apartado ao projeto enviado pelo executivo que pretendia aumentar as
diárias do Prefeito, do Vice e dos Secretários Municipais. João do PT achou que
aumentar de R$ 150,00 para R$ 200,00 a diária dos secretários; e de R$ 250,00
para R$ 300,00 a diária do Prefeito e do Vice era um exagero. E disse mais.
Disse que em tempos de crise econômica, não soaria bem um aumento. Acontece que
apenas uma coisa torna insustentável o argumento do João PT. Essa coisa é o
valor da sua própria diária. Se João do PT for a Florianópolis em busca de
algum recurso - o que eu considero uma atitude louvável, pois acredito que essa
seja uma das principais funções de um homem público, sobretudo quando de um
município com pouca verba como é o nosso caso - ele receberá uma diária de
exatos R$ 300,00. Os mesmos R$ 300,00 que, se dados ao prefeito, é muito.
Sugiro, então, que, para o bem da economia mundial, João abra mão de sua
diária. Vai a São João do Itaperiú? Que frete um jubaio manco. Com certeza, os
300 reais seriam mais do que suficientes. Sandro Basso sabe do que eu estou
falando. Ele elogiou o pedido de vistas do Dr.º Marcelo. Uma semana depois, o
médico voltou atrás e desapontou Sandro Basso. Não elogio mais ninguém. Nem se
Sandro Basso aprender que um parecer é apartado, e não “aparteado” ou o João do
PT aprender a comparar valores.
A
velocidade da informação
Eu gastei 35
reais e já mandei emoldurar a última edição do Jornal de Corupá, de Sandro
Basso (alguém aí se lembra da última edição? É que ela saiu já faz certo
tempo). A edição que vai ganhar, além de uma moldura, um espaço na parede da
minha sala, é aquela que saiu no último dia 09 de fevereiro e trazia uma
matéria sobre a posse do atual prefeito, acontecida dia 01 de janeiro. O texto intitulado “Registrando a história de
Corupá”, na página 2, diz “... o Jornal de Corupá não se preocupa com a
velocidade da informação, ... serve como um documento histórico mensal dos
fatos mais importantes que acontecem em nossa cidade...”. A prova dessa última
afirmação é facilmente encontrada. Na página 12 da mesma edição, Sandro Basso
registra um dos fatos mais importantes da história de Corupá, desde a eleição
de Tito Steingraeber ou da instalação do município, em 25 de julho de 1958. Ele
usa um quarto de página para dizer que o Darlei saiu do PMDB e foi para o PSDB.
Ouvi dizer que o New York Times, nesse dia, ficou indeciso entre essa manchete
e a posse de Barack Obama.
Diante da declaração de Sandro Basso, quando ele diz não se preocupar com a
velocidade da informação, uma curiosidade me assalta. Com o que Sandro Basso se
preocupa? E ele parece ser uma pessoa muito preocupada, a contar pela brancura
precoce de suas madeixas. Será a Reforma Ortográfica? O preço do papel? A
produção do gás sulfúreo? Para que você pudesse ler, aqui em Corupá, no
conforto de sua poltrona, que centenas de pessoas saíram em protesto ao Hamas,
nas ruas da cidade paquistanesa de Dera Ghazi Khan, ou para que você pudesse,
através de um único clique, saber pela internet que civis enfrentam falta de
alimentos no Sri Lanka, devido às ofensivas do Exército de Libertação dos
Tigres do Tamil Eelam”, anos de pesquisas foram gastos e bilhões de dólares
foram investidos. Tudo porque o mundo moderno admite, com exceção de Sandro
Basso, que a velocidade na informação é fundamental.
Sandro Basso me lembra Shoichi Yokoi, aquele soldado japonês, encontrado
escondido na ilha de Guam, 27 anos após o término da Segunda Guerra Mundial,
sem saber que a guerra havia acabado. Se dependesse de Sandro Basso, e de seu
mensal Jornal de Corupá, o pobre japonês ainda estaria na ilha de Guam,
paranóico, combatendo os miseráveis Yankes. Sandro Basso diz que o objetivo de
seu jornal é apenas registrar os fatos, sem preocupação com a velocidade. Eu
sugiro que, paulatinamente, ele dê maiores intervalos na periodicidade de seu
jornal. Bimestral. Semestral. Anual. Por fim, edições apenas em anos bissextos.
Assim, com esse intervalo, talvez apareçam notícias tão importantes quanto a
troca de partido do Darlei.