O miserável cético que jamais havia sido beijado
Eu já disse
aqui, mais de uma vez, sobre meu ceticismo. Eu sei que ninguém tem interesse sobre
isso, mas sinto uma vontade incontrolável de repetir, a cada chance que tenho.
E repito, sempre que posso. Entretanto, enquanto eu escrevia essa coluna, aconteceu
um milagre. Não um milagre tradicional, mas um milagre à moda cética, com o
perdão do paradoxo.
Eu estava
disposto a falar sobre Eliane Müller e o caso da Asbanco, e lançar mão de um
chiste qualquer, talvez brincar com o seu apelido (V8) e fazer (as já manjadas)
ilações sobre o gasto com combustíveis da associação. Mas, então, eis que um
milagre aconteceu. Meu pai me interrompeu e comentou sobre o caso da britânica
que já recebeu mais de 15 milhões de visitas em seu vídeo no site do Youtube,
cuja matéria aparece na página 9 dessa edição. Acessei o tal vídeo apenas para
não desapontar meu pai. Não acreditava que poderia encontrar algo interessante.
Foi então que o meu ceticismo foi desmascarado. Eu presenciei um verdadeiro milagre.
Para quem não viu ainda o vídeo, eu explico. Existe um programa na Inglaterra
chamado Britain’s Got Talent, semelhante ao American Idol dos Estados Unidos ou
ao Fama, exibido no Brasil. Surge uma senhora de 47 anos, chamada Susan, vindo
do interior dos Estados Unidos, com cara de louca e trejeitos de vovó extravagante,
dizendo que gostaria de ser cantora profissional. Os jurados, pensando se
tratar de mais uma senhora iludida que pensa que é cantora (o que, aliás, é o
que mais aparece nesse tipo de programa), a trataram com desdenho. A pilhéria
aumentou quando Susan disse nunca ter sido beijada. Entretanto, ao fim do
escárnio, chegou o momento de Susan cantar. Sob os olhares céticos da imensa
platéia, Susan anunciou que cantaria “I Dreamed a Dream”, parte do musical “Les
Miserables”. E cantou. Foi então que a
Epifania aconteceu. Eu, tal qual Moisés no Monte Sinai, vi a sarça ardente que
me revelou coisas inefáveis. A voz de Susan fez abrir o Mar Vermelho do meu
ceticismo e o que eu vi foi a possibilidade das realizações dos sonhos. Por
mais esdrúxulos que eles possam nos parecer. Por mais descabido que os outros
possam nos persuadir que eles os sejam.
Les misérables (Os Miseráveis) é uma das
principais obras escritas pelo escritor francês Victor
Hugo, publicada em 3
de abril de 1862 simultaneamente em Leipzig, Bruxelas, Budapeste, Milão,
Roterdã, Varsóvia, Rio de Janeiro e Paris, nesta última cidade foram vendidos 7
mil exemplares em 24 horas. Hoje, eu, tal qual Jean Valjean, liberto das grades do ceticismo, já não duvido que o feito pode se repetir com Susan, a
mulher de 47 anos que nunca foi beijada.
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