Muito Além do Cidadão Kane
Lembram
da Xuxa, cantando “Ilariê”? “Todo mundo está feliz?”. Nem todos estão felizes
no Brasil. A economia pode ser uma das 10 maiores do mundo, mas a distribuição
de renda é a 3ª pior do planeta.
Assim
começa o documentário chamado: “Brasil: Muito Além do Cidadão Kane”, que foi ao
ar, pela primeira vez, no dia 10 de março de 1993, no canal britânico Channel
4. O documentário apresenta o empresário Roberto Marinho como um exemplo
alarmante da concentração de poder da imprensa do Brasil - daí a referência do
título à personagem de Orson Welles no filme Cidadão
Kane, que por sua vez faz alusão direta ao magnata das comunicações dos
Estados Unidos, William Randolph Hearst.
Como
o documentário mostra, e é de conhecimento dos brasileiros – exceto aos fãs de
novela e Big Brother e dos nacionalistas escalafobéticos - o domínio crescente
das Organizações Globo na imprensa brasileira envolveu: contratos ilegais com
empresas estrangeiras, apoio incondicional aos governos ditatoriais no Brasil e
tudo o que estivesse ao seu alcance para garantir seus interesses - o que
inclui até a manipulação de debates políticos para eleger o governo, como
ocorreu no caso Collor de Mello. Mais do que isso, o filme explica como funciona
a política brasileira de comunicações e os critérios arbitrários pelos quais se
concedem e renovam as concessões de canais de televisão e rádio.
Para
ser exibido na televisão, ou reproduzido em vídeo, o documentário precisaria da
autorização da Globo, uma vez que muitas imagens apresentadas eram da própria
Globo. Desnecessário dizer que esse documentário nunca foi exibido na
televisão. Como era de se esperar, a Globo se recusou a ceder os direitos de
exibição de suas imagens. Mas, o vídeo vazou e, hoje, é possível assisti-lo no
Youtube. Já são mais de um milhão de acessos.
Claro
que Roberto Marinho não inaugurou a sujeira na grande imprensa brasileira. A
manipulação tem uma longa história. Grandes jornalistas já atacavam a corrupção
da imprensa já na Primeira República.
O
último grande caso foi o de Elvira Lobato e Folha de São Paulo versus Igreja
Universal do Reino de Deus. Na reportagem "Igreja Universal Completa 30
anos com Império Empresarial", a
repórter Elvira Lobato apresentou uma série de indícios de como Edir Macedo, o
dono da Igreja Universal, teria construído um império empresarial de maneira
ilícita. A resposta de Macedo foi rápida: Elvira Lobato e a Folha foram alvos
de uma enxurrada de processos de fiéis da Igreja (cerca de 50) vindos de todos
os cantos do país, que alegaram se sentir ofendidos pela reportagem, mesmo que
nenhum deles tenha sido citado pela jornalista.
O
dono da Igreja Universal do Reino de Deus, Edir Macedo, é hoje o maior proprietário de concessões de
televisão no Brasil. Além das suas 23 emissoras de TV,
possui mais 40 emissoras de rádio registradas em nome de pastores de sua
confiança. Se o falecido Roberto Marinho já chegou a ter o controle de 32
emissoras além das afiliadas, hoje a Globo tem apenas cinco concessões de TV
(São Paulo, Rio, Recife, Belo Horizonte e Brasília) e a família Marinho tem
cerca 10% do capital de 18 afiliadas. A Rede Bandeirantes tem 10 concessões de
TV assim como o SBT. As emissoras de Edir Macedo só perdem para a rede Globo em
faturamento publicitário, estando em segundo lugar ao lado do SBT.
Com
tanto poder para influenciar a opinião pública, Edir Macedo e a família Marinho
estão muito, muito além do cidadão Kane.
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