O nome do nosso herói é Heins Kopsch
A Bíblia, no
Livro de Samuel, capítulo 17, nos traz a conhecida, e não por isso menos
interessante, história sobre a vitória do franzino Davi contra o campeão dos
Filisteus, o mercenário Golias, um gigante com mais de três metros de altura,
que desafiava abertamente a Israel, até ser derrotado com uma pedrada no meio
da testa. Embora haja quem diga que essas narrativas sejam apenas alegóricas,
existem episódios contemporâneos muito parecidos com ele. O primeiro que me vem
à memória é o do atleta, negro e norte-americano, Jesse Owens, ganhador de
quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, que obrigou
Hitler a sair do estádio para não ter que cumprimentá-lo. O negro de canelas
finas, porém rápidas, botou para correr o poderoso Führer.
Corupá também
faz parte desse universo mítico de alegorias e heroísmos. Sim. Temos cá o nosso
Davi (embora ele não tenha nada de franzino). Temos cá o nosso Jesse Owens
(embora ele não tenha nada de negro). O nome do nosso herói é Heins Kopsch.
A história
remonta o ano de 1984. Esperidião Amin Helou Filho era o governador do estado
pelo extinto PDS, e estava em Corupá para inaugurar o Ginásio Municipal Willy
Germano Gessner. Para celebrar tão importante data, foi realizado um jogo entre
um time formado pelos funcionários da Prefeitura de Corupá e outro formado por
membros do Governo Estadual. O escrete dos Sociais Democratas contou com a
careca ilustre do ilustre governador, ornada, na ocasião, com uma faixa,
correndo pela ala direita. (Há quem diga que, jogando como pivô, estava o
Secretário de Amin à época, Paulo Bauer. Mas, pelo que eu saiba, Paulo Bauer só
foi secretário de Amin no segundo mandato dele, em 1999.) Porém, a equipe da
prefeitura, capitaneada por Albano Melchert, também do PDS, contava com um
timaço. Se a seleção brasileira de 2002 possuía o Quarteto Mágico, nós
possuíamos o “Terceto Fantástico”: Heins Kopsch, Beto Maia e Ivo Marquardt. Com
um time desses, não haveria governador que segurasse. E não segurou. Logo aos 6
minutos do primeiro tempo, Heins Kopsch, o nosso Jesse Owens às avessas, o
nosso longilíneo Davi, soltou um petardo de direita que quase furou a rede e marcou
um golaço. O ginásio, lotado, veio abaixo. O povo aplaudiu de pé o mimetismo
bíblico que estavam presenciando. Embora o próprio Heins não confirme, há quem
jure que, durante a comemoração do gol, ele tenha gritado: “Comigo é assim. Eu
ManDoBrasa.”
No intervalo do
jogo, já nos vestiários, os Democratas, com atitudes não muito democráticas –
talvez herança da ARENA, já que o partido foi o seu sucessor – pressionaram o
pobre “Davi”. Transcrevo agora o diálogo mantido nos vestiários (baseando-me,
apenas, na minha imaginação):
- “Você, por
acaso, está maluco, guri”?
No segundo
tempo, como a equipe de Amin não dispusesse de talento suficiente para virar o
jogo, o nosso goleiro sucumbiu à pressão. Num lateral cobrado pelo governador, o
arqueiro Levin, proposital e desavergonhadamente, deixou que a bola entrasse.
Empataram o jogo.
Depois disso,
Beto Maia já não acertava mais os passes. Ivo Marquardt já não se empenhava
tanto na marcação. Kopsch já não era o mesmo. O menino andava cabisbaixo pela
quadra, tentando compreender a lógica daquele “jogo”. E, por ter cometido um
ato tão insolente, o nosso pequeno artilheiro foi castigado. Sim.
Pressionaram-no a filiar-se ao PDS. E ele, mais uma vez, cedeu. E assim foi
abortada a carreira futebolística do nosso herói.
Nenhum comentário:
Postar um comentário