sábado, 6 de dezembro de 2014

O nome do nosso herói é Heins Kopsch

A Bíblia, no Livro de Samuel, capítulo 17, nos traz a conhecida, e não por isso menos interessante, história sobre a vitória do franzino Davi contra o campeão dos Filisteus, o mercenário Golias, um gigante com mais de três metros de altura, que desafiava abertamente a Israel, até ser derrotado com uma pedrada no meio da testa. Embora haja quem diga que essas narrativas sejam apenas alegóricas, existem episódios contemporâneos muito parecidos com ele. O primeiro que me vem à memória é o do atleta, negro e norte-americano, Jesse Owens, ganhador de quatro medalhas de ouro nos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, que obrigou Hitler a sair do estádio para não ter que cumprimentá-lo. O negro de canelas finas, porém rápidas, botou para correr o poderoso Führer.
Corupá também faz parte desse universo mítico de alegorias e heroísmos. Sim. Temos cá o nosso Davi (embora ele não tenha nada de franzino). Temos cá o nosso Jesse Owens (embora ele não tenha nada de negro). O nome do nosso herói é Heins Kopsch.
A história remonta o ano de 1984. Esperidião Amin Helou Filho era o governador do estado pelo extinto PDS, e estava em Corupá para inaugurar o Ginásio Municipal Willy Germano Gessner. Para celebrar tão importante data, foi realizado um jogo entre um time formado pelos funcionários da Prefeitura de Corupá e outro formado por membros do Governo Estadual. O escrete dos Sociais Democratas contou com a careca ilustre do ilustre governador, ornada, na ocasião, com uma faixa, correndo pela ala direita. (Há quem diga que, jogando como pivô, estava o Secretário de Amin à época, Paulo Bauer. Mas, pelo que eu saiba, Paulo Bauer só foi secretário de Amin no segundo mandato dele, em 1999.) Porém, a equipe da prefeitura, capitaneada por Albano Melchert, também do PDS, contava com um timaço. Se a seleção brasileira de 2002 possuía o Quarteto Mágico, nós possuíamos o “Terceto Fantástico”: Heins Kopsch, Beto Maia e Ivo Marquardt. Com um time desses, não haveria governador que segurasse. E não segurou. Logo aos 6 minutos do primeiro tempo, Heins Kopsch, o nosso Jesse Owens às avessas, o nosso longilíneo Davi, soltou um petardo de direita que quase furou a rede e marcou um golaço. O ginásio, lotado, veio abaixo. O povo aplaudiu de pé o mimetismo bíblico que estavam presenciando. Embora o próprio Heins não confirme, há quem jure que, durante a comemoração do gol, ele tenha gritado: “Comigo é assim. Eu ManDoBrasa.”
No intervalo do jogo, já nos vestiários, os Democratas, com atitudes não muito democráticas – talvez herança da ARENA, já que o partido foi o seu sucessor – pressionaram o pobre “Davi”. Transcrevo agora o diálogo mantido nos vestiários (baseando-me, apenas, na minha imaginação):
- “Você, por acaso, está maluco, guri”?
No segundo tempo, como a equipe de Amin não dispusesse de talento suficiente para virar o jogo, o nosso goleiro sucumbiu à pressão. Num lateral cobrado pelo governador, o arqueiro Levin, proposital e desavergonhadamente, deixou que a bola entrasse. Empataram o jogo.
Depois disso, Beto Maia já não acertava mais os passes. Ivo Marquardt já não se empenhava tanto na marcação. Kopsch já não era o mesmo. O menino andava cabisbaixo pela quadra, tentando compreender a lógica daquele “jogo”. E, por ter cometido um ato tão insolente, o nosso pequeno artilheiro foi castigado. Sim. Pressionaram-no a filiar-se ao PDS. E ele, mais uma vez, cedeu. E assim foi abortada a carreira futebolística do nosso herói.



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