sábado, 6 de dezembro de 2014

Adam Smith

“Se, aos 20 anos, você não é comunista, é porque você não tem coração. Mas, se aos 40 anos, você ainda é comunista, é porque você não tem cérebro”. Palavras de Carlos Drummond de Andrade. O itabirano estava certo. Eu não deixaria um liberal de 25 anos namorar minha filha, por exemplo, se eu tivesse uma filha. Assim como não aceitaria ser sócio de um comunista com mais de 40. Achei que teria que mudar de opinião quando o Darlei resolveu se filiar ao DEM.
 Drummond está certo, mas Alceu Moretti também está certo. Dias desses, o Secretário de Saúde me confessou que, embora esteja insatisfeito com as ações da esquerda em todo o mundo, e, principalmente, no Brasil, ele não consegue votar em partidos ligados à direita. Segundo ele, “por mais que eu queira, eu não consigo”. Eu sei do que o Alceu está falando. Enquanto a cabeça está convencida dos argumentos de Adam Smith e sua indefectível “mão invisível” do mercado, o coração ainda sente um calor agonizante das teorias do marxismo. A boina, a barba por fazer e as palavras de ordem de Che ainda mexem com nosso espírito juvenil. Mas, caro Alceu, temos todos que crescer. Somos obrigados, um dia, a completar 40 anos, não importando a idade que tenhamos.
Em outubro, irei votar em José Serra. Eu e todas as pessoas com mais de 40 anos que se encaixam nos critérios drummondianos. Com o nariz tampado, confesso, mas vou votar em Serra. E acredito que o Alceu também irá votar em Serra. E por um único motivo. As noções de direita e esquerda não se aplicam ao Brasil, caro Alceu. Quer um exemplo? O PT se elegeu como o apoio do PL e do PCB. Não que Lula tenha inaugurado essa miscelânea partidária. Ele apenas a institucionalizou. Quer um exemplo caseiro? O Ernesto Felipe Blunk, nosso ex-prefeito, ex-Arena, ex-PDS e ex-PFl, hoje, embora se classifique como liberal de direita, é presidente de um partido chamado: Partido Socialista Brasileiro.
Portanto, no Brasil, mesmo votando no PL, por exemplo, continuamos sendo esquerda, pois, no Brasil de hoje, temos apenas: esquerda e centro-esquerda. Feranndo Henrique Cardoso, embora seja chamado de neoliberal, e tenha tentado aplicar a ideia do estado mínimo, e deixado que a iniciativa privada gerenciasse aquilo que só a iniciativa privada pode gerenciar, como a telefonia, por exemplo, se enrolou no processo das privatizações e deixou, como legado, o horror que palavras como essa, privatizações, direita, liberalismo etc. geram em Alceu Moretti, por exemplo.

Entre a barba mal feita de Che, o currículo de Dilma e o “quase direita” José Serra, eu fico com Adam Smith.

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