sábado, 6 de dezembro de 2014

Décadence avec élégance

O melhor filme a que eu já assisti na vida, até hoje, foi “Os Imperdoáveis”, de Clint Eastwood. Eu já vi a esse filme, de 1993 até hoje, sem exagero, umas 128 vezes. Decorei todas as falas, todas as cenas, luzes. Tudo. Não entendo nada de cinema, mas sou Phd em “Os Imperdoáveis”. Em determinada altura do filme, como em todo faroeste, chega o momento crucial em que Clint Eastwood, um cowboy sangue frio do Missouri, e Gene Hackman, um xerife desonesto, se enfrentam e lançam mão da célebre frase: “Essa cidade é pequena demais para nós dois.”

Corupá, em vários aspectos, faz lembrar aquela remota cidade do Wyoming onde o filme foi ambientado. Não fosse os cabelos brancos, Sandro Basso seria o próprio Gene Hackman. Até as histórias dos dois tem ligações. Hackman, após ter saído de casa aos 16 anos, foi fazer jornalismo na Universidade de Illinois, aí resolveu abandonar a faculdade e fazer um curso técnico de rádio. Por fim, resolveu tentar a carreira de ator e se matriculou na Pasadena Playhouse, na California. A Secretaria de Educação voltou a oferecer curso de teatro. Sandro Basso poderia se inspirar na vitoriosa trajetória de Gene Hackman e ir estudar artes cênicas. Já ficou provado que jornalismo e rádio não são a praia de Sandro Basso. Quem sabe ele, tal qual Hackman, descubra sua real vocação. Na última edição do Jornal de Corupá (alguém chegou a ler?) a primeira manchete é: “União faz a força.” Essa manchete é o suprassumo da falta de criatividade. É quase um antijornalismo. Essa expressão está mais gasta do que a fórmula mocinho-bandido dos Faroestes. Mais gasta que o já estereotipado tema de redação: “Minhas férias.” Vou lançar uma campanha e conto com a sua ajuda, leitor. O mote da campanha será: “Queremos Sandro Basso fazendo teatro.” Seria uma despedida gloriosa. O que está lastimável é ver Sandro Basso e seu Jornal de Corupá publicando matérias com até 30 dias de atraso. Sandro me lembra o Garrincha em final de carreira. Gordo, sem habilidade, vivendo apenas do nome e daquilo que ele foi um dia, e já sem o menor tato com a bola. O Ronaldo Fenômeno está incorrendo no mesmo erro que Garrincha e Sandro Basso. Deu pena ver o Ronaldo matar de canela as duas bolas que, em quase 30 minutos, ele conseguiu chegar. Se o exemplo de Gene Hackman não seduz Sandro Basso, sugiro que siga os conselhos do cantor e compositor Lobão: "Décadence avec élégance."



Se você fosse sincera, ôôôôôô, Aurora


O Carnaval começa amanhã. Não vou poder viajar. E como eu não vou poder viajar, vou dizer a quem me perguntar que não gosto de carnaval. Vou dizer que não queria mesmo viajar. Igual aquela velha história das raposas e das uvas. Ou da história, mais recente, de Sandro Basso, dizendo que não se importa com a velocidade da informação. Já que uma viagem está fora de cogitação, tratei de pegar emprestado um bom livro de Machado de Assis para me fazer companhia nesse feriado prolongado. Escolhi a “Teoria do Medalhão”.
Sei que é difícil achar quem goste de Machado de Assis. Sei que muitos o acham aborrecido. Entretanto, ler Machado de Assis nos ajuda, até, a entender certas coisas que acontecem bem perto de nós. E pode, inclusive, nos livrar de certas situações constrangedoras. Quer ver?  O vereador João do PT não leu Machado de Assis. Se leu, não entendeu a ironia ou não leu o que deveria. Se tivesse lido, não teria feito o papelão que fez durante a primeira sessão ordinária do ano na Câmara de Vereadores.
Se João do PT tivesse lido a “Teoria do Medalhão”, por exemplo,  de Machado de Assis, ao invés de ter lido “O Manifesto Comunista”, ou “Raízes do Brasil”, ou ainda “O Capital”, ele não teria usado a tribuna para condenar algo que ele mesmo praticou.
Não precisaria ter lido o livro todo. Embora curto, poderia ter lido apenas alguns parágrafos. Seria o suficiente para livrá-lo da situação embaraçosa que ele teve que enfrentar no último dia 16.
Se João do PT não vai ao Machado de Assis, Machado de Assis vem ao João do PT.
O parágrafo redentor a que eu me referi é o que segue abaixo:

“- Se for ao Parlamento, posso ocupar a tribuna?
- Podes e deves; é um modo de convocar a atenção pública. Quanto à matéria dos discursos, tens à escolha: - ou os negócios miúdos, ou a metafísica política, mas prefere a metafísica. Os negócios miúdos, força é confessá-lo, não desdizem daquela chateza do bom-tom, própria de um medalhão acabado; mas, se puderes, adota a metafísica; - é mais fácil e mais atraente. Supõe que desejas saber por que motivo a 7ª companhia da infantaria foi transferida de Uruguaiana para Canguçu; serás ouvido tão somente pelo ministro da Guerra, que te explicará em dez minutos a razão desse ato. Não assim a metafísica. Um discurso de metafísica política apaixona naturalmente os partidos e o público, chama os apartes e as respostas.”
O grifo é meu. De mim para João. Com afeto.
Para quem prefere pular carnaval e não leu, e nem vai ler, a “Teoria do Medalhão” de Machado de Assis, e tampouco esteve presente à Câmara no último 16, saiba que o ponto que une esses dois assuntos é o seguinte: João do PT já declarou, em outras ocasiões, que nunca usou contas adiantamento ou diárias, enquanto ocupou a Chefia da Divisão de Esportes. Acontece que a Presidente da Câmara, a vereadora Margot Hauffe, preparou um farto material onde fica comprovado que, diferente do que o vereador diz, ele usou sim, enquanto Chefe da Divisão de Esportes, tanto as diárias quanto as contas adiantamento. Inclusive com valores acima de mil reais. João do PT não deu ouvidos ao Machado de Assis e foi tratar de “negócios miúdos”. Deu no que deu. Preferisse a metafísica, tal como falar do Partido dos Trabalhadores, como de fato deu indícios de que faria, teria evitado a dolorosa e primeira lambada da nova legislatura. Muitos podem achar esse episódio irrelevante, mas não é. Ele pode, inclusive, direcionar as futuras votações. O mancebo Sidnei Schwerdtner está em busca de um líder. Pensou ter achado esse líder no João do PT. Mas, ao ver a primeira investida do futuro mestre dar em nada, é possível que tenha repensado sua decisão.
Sei que se ele olhar para o seu lado direito, as ofertas não são muita melhores. Isso pode, inclusive, resultar em algo pior. Ele pode eleger como seu guru o Everaldo Mokwa. Para os que gostam de Machado de Assis, o texto acaba aqui. Para quem gosta de carnaval e do PT, segue uma marchinha:
“Se você fosse sincera
Ô ô ô ô Aurora
Veja só que bom que era
Ô ô ô ô Aurora”.





Não elogio mais


Na última terça-feira, eu assisti ao amistoso da seleção brasileira contra a Itália. Em determinada altura do jogo, resolvi, gratuitamente, e sem nenhum propósito, elogiar a narração de Galvão Bueno. Não gosto do Galvão Bueno. Pelo contrário. Acho ele intragável. Eu o vejo como uma espécie de filósofo do óbvio. Eu estou vendo que a bola foi lançada. Não preciso da ajuda dele para perceber que bola foi a escanteio, por exemplo. Não se passaram cinco minutos para que eu me arrependesse de tê-lo elogiado. E o arrependimento me atacava agudamente a cada vez que ele insistia em chamar o goleiro da Itália, cujo nome é Gianluigi Buffon, de “Gianluca” Buffon. Se ele estivesse narrando um jogo qualquer, como Joinville e Figueirense, por exemplo, e tivesse chamado de Fábio, ao invés de Fabiano, o goleiro do Joinville, tudo bem. Acontece que estamos falando do goleiro mais famoso do planeta, o campeão da última Copa. O goleiro da Itália em 1994, sim, era Gianluca, o Pagliuca. Bem feito pra mim. Elogiar é sempre perigoso. Na coluna da edição 35, de 24 de janeiro, eu incorri no mesmo erro. Gratuitamente, e sem nenhum propósito, eu elogiei a atitude do vereador João do PT por ele ter chamado à câmara o senhor Norberto Müller, para prestar esclarecimentos sobre a prestação de contas dos Bombeiros. Fiz mais que isso. Disse que ele havia começado bem. Eu não aprendo mesmo. Foi só elogiar e ele fez lambança. João do PT é o Galvão Bueno da massa sindical. É o  nosso filósofo do óbvio.
Na sessão seguinte àquela a qual eu o elogiei, o vereador achou por bem dar um parecer apartado ao projeto enviado pelo executivo que pretendia aumentar as diárias do Prefeito, do Vice e dos Secretários Municipais. João do PT achou que aumentar de R$ 150,00 para R$ 200,00 a diária dos secretários; e de R$ 250,00 para R$ 300,00 a diária do Prefeito e do Vice era um exagero. E disse mais. Disse que em tempos de crise econômica, não soaria bem um aumento. Acontece que apenas uma coisa torna insustentável o argumento do João PT. Essa coisa é o valor da sua própria diária. Se João do PT for a Florianópolis em busca de algum recurso - o que eu considero uma atitude louvável, pois acredito que essa seja uma das principais funções de um homem público, sobretudo quando de um município com pouca verba como é o nosso caso - ele receberá uma diária de exatos R$ 300,00. Os mesmos R$ 300,00 que, se dados ao prefeito, é muito. Sugiro, então, que, para o bem da economia mundial, João abra mão de sua diária. Vai a São João do Itaperiú? Que frete um jubaio manco. Com certeza, os 300 reais seriam mais do que suficientes. Sandro Basso sabe do que eu estou falando. Ele elogiou o pedido de vistas do Dr.º Marcelo. Uma semana depois, o médico voltou atrás e desapontou Sandro Basso. Não elogio mais ninguém. Nem se Sandro Basso aprender que um parecer é apartado, e não “aparteado” ou o João do PT aprender a comparar valores.






A velocidade da informação



Eu gastei 35 reais e já mandei emoldurar a última edição do Jornal de Corupá, de Sandro Basso (alguém aí se lembra da última edição? É que ela saiu já faz certo tempo). A edição que vai ganhar, além de uma moldura, um espaço na parede da minha sala, é aquela que saiu no último dia 09 de fevereiro e trazia uma matéria sobre a posse do atual prefeito, acontecida dia 01 de janeiro.  O texto intitulado “Registrando a história de Corupá”, na página 2, diz “... o Jornal de Corupá não se preocupa com a velocidade da informação, ... serve como um documento histórico mensal dos fatos mais importantes que acontecem em nossa cidade...”. A prova dessa última afirmação é facilmente encontrada. Na página 12 da mesma edição, Sandro Basso registra um dos fatos mais importantes da história de Corupá, desde a eleição de Tito Steingraeber ou da instalação do município, em 25 de julho de 1958. Ele usa um quarto de página para dizer que o Darlei saiu do PMDB e foi para o PSDB. Ouvi dizer que o New York Times, nesse dia, ficou indeciso entre essa manchete e a posse de Barack Obama.
Diante da declaração de Sandro Basso, quando ele diz não se preocupar com a velocidade da informação, uma curiosidade me assalta. Com o que Sandro Basso se preocupa? E ele parece ser uma pessoa muito preocupada, a contar pela brancura precoce de suas madeixas. Será a Reforma Ortográfica? O preço do papel? A produção do gás sulfúreo? Para que você pudesse ler, aqui em Corupá, no conforto de sua poltrona, que centenas de pessoas saíram em protesto ao Hamas, nas ruas da cidade paquistanesa de Dera Ghazi Khan, ou para que você pudesse, através de um único clique, saber pela internet que civis enfrentam falta de alimentos no Sri Lanka, devido às ofensivas do Exército de Libertação dos Tigres do Tamil Eelam”, anos de pesquisas foram gastos e bilhões de dólares foram investidos. Tudo porque o mundo moderno admite, com exceção de Sandro Basso, que a velocidade na informação é fundamental.
Sandro Basso me lembra Shoichi Yokoi, aquele soldado japonês, encontrado escondido na ilha de Guam, 27 anos após o término da Segunda Guerra Mundial, sem saber que a guerra havia acabado. Se dependesse de Sandro Basso, e de seu mensal Jornal de Corupá, o pobre japonês ainda estaria na ilha de Guam, paranóico, combatendo os miseráveis Yankes. Sandro Basso diz que o objetivo de seu jornal é apenas registrar os fatos, sem preocupação com a velocidade. Eu sugiro que, paulatinamente, ele dê maiores intervalos na periodicidade de seu jornal. Bimestral. Semestral. Anual. Por fim, edições apenas em anos bissextos. Assim, com esse intervalo, talvez apareçam notícias tão importantes quanto a troca de partido do Darlei.

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