Obrigações do Inquilinato
Desde
que eu cheguei em Corupá, eu moro de aluguel. Morei em uma casa, nos primeiros
quatro meses, e agora vivo com minha família em um apartamento.
Na
primeira casa, me lembro de ter querido pendurar uns quadros na sala, instalar
uns brinquedos no quarto do meu filho, uns penduricalhos na cozinha e uma cesta
de basquete no corredor que dava acesso aos quartos. Num rompante de euforia,
cheguei até mesmo a propor que quebrássemos uma parede. Minha intenção era que
a cozinha ganhasse maior comunicabilidade com a sala. Mas, antes de dar cabo a
tais sandices, fui, veementemente, repreendido pela minha mulher. Ela teve que
me lembrar, por mais de uma vez, que nós não éramos os proprietários da casa.
Acredito que isso aconteça por conta de uma característica peculiar ao ser
humano. Somos um bicho extremamente adaptável. Basta um mês em uma casa, por
exemplo, para que já nos sintamos donos dela. Mais ainda. Basta que uma viagem
de ônibus dure mais de quatro horas para que façamos uso capião daquele espaço
da poltrona. Alguns políticos, e também alguns funcionários públicos, agem da
mesma forma em relação ao poder e aos bens públicos. Quer um exemplo? Vejamos
... (a essa altura você deve estar imaginando que eu vá falar do Coni, né?
Bingo! Você acertou!).
Analisando
o estado em que se encontram as máquinas da prefeitura, é possível perceber que
esse sentimento de posse acometeu a última administração. Eu, por exemplo, não
lavo o meu carro com muita assiduidade. Tampouco faço revisões regulares.
Quando comentam sobre isso, eu respondo, de forma ríspida, com o já conhecido:
"O carro é meu. Eu faço o que eu quiser." As avarias na patrola, por
exemplo, são quase como bilhetes, onde se pode ler: "Está estragado, não
nego, arrumo quando quiser." Acontece que, diferentemente do meu carro, a
patrola não pertence somente ao Coni, nem somente ao Secretário de Obras, ou ao
encarregado da manutenção das máquinas. Ela também é sua, é minha, é nossa.
Posso não lavar o meu fusca, mas exijo que os tratores da prefeitura estejam
sempre brilhando, e tenham pneus novos, freios funcionando e conchas prontas
para o trabalho. Acredito que o valor que pagamos em impostos seja suficiente
para que os embuxamentos da retroescavadeira, por exemplo, sejam trocados com a
periodicidade recomendada pelo fabricante.
Depois
de cinco anos de casado, estou melhorando. Me contento com apenas um quadro na
parede, desisti da idéia de instalar dormentes na parede da sala para praticar
o rapel e já não cogito quebrar nenhuma parede.
Quanto
a lavar o fusca com a freqüência que minha mulher espera, quem sabe mais uns
cinco anos de casado não dê jeito!
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