Pérolas aos Poucos
Foi em clima de Déjà vu e euforia que eu acompanhei, na última quarta-feira, os
telejornais da Globo e da Record (Jornal Nacional e Jornal da Record,
respectivamente). Zapeava, freneticamente, entre os dois canais. Afinal, quando
uma guerra ideológica é deflagrada, quanto mais entre duas gigantes ligadas a
uma área tão importante como a área da comunicação, a diversão é garantida.
Quanto mais afiados os discursos, de um e outro lado, o sangue das evidências
funciona como um banho persuasivo de realidade. Eufórico, cheguei a dar um
palpite em relação ao crescimento nos números do Ibope. Se a média do Jornal
Nacional girava em torno dos 35 pontos, deve ter chegado aos 50, eu decretei,
zombeteiro e convencido, como o Mauri em seus palpites futebolísticos.
Finalmente, as vísceras carcomidas dos dois maiores cânceres da nação seriam
despudoradamente dissecadas. De um lado, a Globo mostrava o estelionato
coletivo praticado por Macedo e sua trupe. E o golpe entrava como um cruzado de
direita. Do outro, a Record mostrava a ligação da Globo com a ditadura militar
à época de sua fundação, e relembrava a
manipulação das imagens do debate entre Lula e Fernando Collor, favorecendo o
Presidente Mauricinho e Caçador de Marajás. Uma esquiva e um uppercut fazendo zunir a cabeça dos bispos. No auge do
meu delírio, cheguei a supor que o Brasil acordaria outro na quinta-feira.
Templos esvaziados. Ninguém comentando a patética e caricata vida dos indianos
com sotaque carioca. No Bar do Gaúcho, os clientes discutiriam sobre as
evidências da tendenciosidade dos jornais do grupo dos Marinho. No Bar da
Kátia, aos berros, entre um gole e outro, os clientes discutiriam a validade ou
não dos argumentos metafísicos e teológicos sobre a obrigatoriedade do dízimo.
Minha euforia durou o que
dura a euforia dos torcedores do Fluminense. Durou o tempo exato da crença que
tínhamos em Maguila, no início dos anos 90.
Já na quinta-feira, li
que a famigerada guerra não alterou em nada os índices de audiência de nenhum dos
programas jornalísticos das emissoras. A Globo obteve os mesmos enfadonhos e
previsíveis 35,8 pontos, enquanto a Record chegou aos divinos 8 pontos
consolidados.
Fui nocauteado pela “Evander Realidade Holyfield”.
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