Os Baluartes do
estilo
Basta que eu
ouça os dois ou três acordes iniciais de qualquer música gravada por Eydie
Gormé, por exemplo, para descobrir de quem se trata. Se o Silvio Santos fizesse
um programa do “Qual é a Música”, somente com músicas de Eydie Gormé, hoje eu
seria um homem rico. Mérito meu? Não. Mérito de Eydie Gormé. Mérito de pessoas
que criam, em suas áreas de atuação, marcas inconfundíveis. Questão de estilo,
meu caro. Vamos a exemplos caseiros - como
gostam e me cobram muitos corupaenses, né Kristo? – sobre isso.
No último dia
26, na Sessão Solene da Câmara de Vereadores de Corupá, em homenagem aos 25
anos da ACIAC, no Seminário, eu estava ouvindo, atentamente, ou nem tão
atentamente assim, o discurso do vereador Everaldo Mokwa, quando, de repente, pimba!
Fui assaltado pela certeza de que conhecia aquele estilo de discurso. E, mais,
sabia que não era o estilo dele. Essa certeza ganhou corpo quando, em
determinada altura do discurso, ele pronunciou a palavra “Baluarte”. Como eu
sei que esse não o estilo dele? Primeiro, porque eu não acredito que o Everaldo
Mokwa saiba, exatamente, o significado da palavra Baluarte. Segundo, porque eu
me lembrei de quem era esse estilo. Mas, mesmo com a certeza a me latejar as
têmporas, eu confesso que esperei, ansioso, pelo momento apoteótico dessa
certeza. Portanto, depois de proferida a palavra “Baluarte”, eu não consegui
ouvir mais nenhuma palavra do discurso do Everaldo, tamanha a minha ansiosa
torcida para ouvi-lo pronunciar uma outra palavra, qual seja, “Oxalá”, para que
eu desse um All-in nessa minha aposta incial. Qual era a minha aposta? Todas as
fichas no “Coni”, croupier. Claro. Qualquer pessoa que ouviu o Coni discursar,
sabe que, se essas duas palavras ainda não apareceram, é sinal de que o discurso
ainda não está finalizado. Da mesma forma que eu acredito que, se as vogais
fossem eliminadas das músicas de Axé, não existiria mais música baiana, assim
um discurso do Coni não seria um discurso, genuíno, do Coni, se essas duas
famigeradas palavras não aparecessem. Porém, conversando com pessoas que
ouviram mais discursos do Coni do que eu, eles me garantiram que a pessoa
responsável pela produção dos discursos do Coni é sua filha, Eliane Müller.
Mas, não me interpretem mal, nisso não existe nenhum mal. Dia desses, por
exemplo, muita gente se decepcionou quando soube que o presidente americano
Barack Obama não escreve seus próprios discursos. Allen Drew é o nome dele.
Eliane Müller é a nossa Allen Drew do Cavendish.
Sei que já me estendi
no assunto, mas, na verdade, o estilo do qual eu pretendia comentar é o estilo
de governar que será banido amanhã, domingo, dia 31. Essa data é a marca do fim
de uma era. A era Lula. Será seu ato final. Depois
disso, acabou. Escrevo seu nome pela última vez em minha vida: Lula.
Na verdade, estou escrevendo essa coluna na quinta-feira,
dia 28. No fundo, eu sei que Lula irá eleger Dilma Rousseff. Oxalá isso não
fosse verdade. Afinal, Serra é um baluarte do liberalismo. Gostaram do estilo? Mas,
quando a realidade não me agrada, prefiro deixar fluir os devaneios mais
doidivanas.
Questão de estilo, meu caro. Questão de estilo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário