sábado, 6 de dezembro de 2014

Os Baluartes do estilo

Basta que eu ouça os dois ou três acordes iniciais de qualquer música gravada por Eydie Gormé, por exemplo, para descobrir de quem se trata. Se o Silvio Santos fizesse um programa do “Qual é a Música”, somente com músicas de Eydie Gormé, hoje eu seria um homem rico. Mérito meu? Não. Mérito de Eydie Gormé. Mérito de pessoas que criam, em suas áreas de atuação, marcas inconfundíveis. Questão de estilo, meu caro. Vamos a exemplos caseiros -  como gostam e me cobram muitos corupaenses, né Kristo? – sobre isso.
No último dia 26, na Sessão Solene da Câmara de Vereadores de Corupá, em homenagem aos 25 anos da ACIAC, no Seminário, eu estava ouvindo, atentamente, ou nem tão atentamente assim, o discurso do vereador Everaldo Mokwa, quando, de repente, pimba! Fui assaltado pela certeza de que conhecia aquele estilo de discurso. E, mais, sabia que não era o estilo dele. Essa certeza ganhou corpo quando, em determinada altura do discurso, ele pronunciou a palavra “Baluarte”. Como eu sei que esse não o estilo dele? Primeiro, porque eu não acredito que o Everaldo Mokwa saiba, exatamente, o significado da palavra Baluarte. Segundo, porque eu me lembrei de quem era esse estilo. Mas, mesmo com a certeza a me latejar as têmporas, eu confesso que esperei, ansioso, pelo momento apoteótico dessa certeza. Portanto, depois de proferida a palavra “Baluarte”, eu não consegui ouvir mais nenhuma palavra do discurso do Everaldo, tamanha a minha ansiosa torcida para ouvi-lo pronunciar uma outra palavra, qual seja, “Oxalá”, para que eu desse um All-in nessa minha aposta incial. Qual era a minha aposta? Todas as fichas no “Coni”, croupier. Claro. Qualquer pessoa que ouviu o Coni discursar, sabe que, se essas duas palavras ainda não apareceram, é sinal de que o discurso ainda não está finalizado. Da mesma forma que eu acredito que, se as vogais fossem eliminadas das músicas de Axé, não existiria mais música baiana, assim um discurso do Coni não seria um discurso, genuíno, do Coni, se essas duas famigeradas palavras não aparecessem. Porém, conversando com pessoas que ouviram mais discursos do Coni do que eu, eles me garantiram que a pessoa responsável pela produção dos discursos do Coni é sua filha, Eliane Müller. Mas, não me interpretem mal, nisso não existe nenhum mal. Dia desses, por exemplo, muita gente se decepcionou quando soube que o presidente americano Barack Obama não escreve seus próprios discursos. Allen Drew é o nome dele. Eliane Müller é a nossa Allen Drew do Cavendish.
Sei que já me estendi no assunto, mas, na verdade, o estilo do qual eu pretendia comentar é o estilo de governar que será banido amanhã, domingo, dia 31. Essa data é a marca do fim de uma era. A era Lula. Será seu ato final. Depois disso, acabou. Escrevo seu nome pela última vez em minha vida: Lula.
Na verdade, estou escrevendo essa coluna na quinta-feira, dia 28. No fundo, eu sei que Lula irá eleger Dilma Rousseff. Oxalá isso não fosse verdade. Afinal, Serra é um baluarte do liberalismo. Gostaram do estilo? Mas, quando a realidade não me agrada, prefiro deixar fluir os devaneios mais doidivanas.

Questão de estilo, meu caro. Questão de estilo.

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