sábado, 6 de dezembro de 2014

O Gato Paraquedista

        Quem é que não conhece a história da “Bela Adormecida”, da “Chapeuzinho Vermelho”, do “Gato de Botas”, da “Gata Borralheira” e tantas outras? O escritor dessas e de inúmeras outras histórias foi Charles Perrault, um francês nascido no século XVII.
        Agora, quero saber quem é que conhece a história chamada “O Gato Pára-quedista”. Os escritores dessa história são bem mais recentes do que Perrault. São os nossos contemporâneos Coni Müller e Sandro Basso. Para quem não conhece o talento ficcional dos dois, eu explico.
No último dia 15, aconteceu a inauguração de uma sala de aula na Escola Francisco Mees. O prefeito, ao se pronunciar, contou a seguinte história:  “Era uma vez uma comunidade de ratos constantemente perseguida por um gato. Certa vez, um dos ratos teve a idéia de colocar um guizo no pescoço do gato para que, quando ele fosse atacar, os ratos pudessem ouvir o barulho e fugir. Aí então um dos ratos fez a fatídica pergunta: Quem terá coragem para colocar o guizo no pescoço do gato?”    
O objetivo do prefeito, ao contar essa história, era produzir uma metáfora onde a comunidade de ratos perseguida é formada por ele próprio e sua trupe, enquanto o papel do gato cabe à oposição, incluindo o jornal Folha de Corupá e, porque não, esse que vos escreve.
No mesmo dia, mas em outro lugar, Sandro Basso conversava com um amigo. Sem assuntos mais interessantes para tratar, falavam sobre mim. Segundo Sandro, eu não passo de um reles “pára-quedista”. Esse adjetivo faz alusão ao fato de eu não ser natural de Corupá.
Então, aí está montada a história: “O Gato Pára-quedista”. Se você, mãe, não aguenta mais contar as mesmas histórias para os seus filhos, aqui vai uma sugestão: “O Gato Pára-quedista”. Essa história pode servir, também, para fazer com que eles te obedeçam à força do medo. Se não quiserem tomar banho, basta amedrontá-los dizendo que, se não forem, o “Gato Pára-quedista” virá pegá-los. É zás-trás, os pequenos correm para o chuveiro. Não querem comer verdura? Olha que eu chamo o “Gato Pára-quedista”.
Na verdade, esse medo já está difundido em parte da população corupaense. Nos raros eventos sociais que acontecem, ninguém quer ficar perto de mim. Espreitam-me de longe, apontando: “olhem lá o Gato Pára-quedista”.
Se Coni e Sandro tivessem o mesmo talento em suas respectivas atividades como têm para criar histórias, um não estaria sendo investigado por um CPI e o outro não editaria um pasquim de quinta, com mais erros gramaticais do que um texto de uma criança do primário.
Celita Paterno, Chefe da Divisão de Educação, certa vez me disse que tinha a intenção de fundar uma Academia Corupaense de Letras. Eu sugiro os nomes do presidente e do vice: Coni Müller e Sandro Basso. Assim, com os dois bem ocupados nos preparativos das atividades concernentes a uma academia, como os famosos chás, a prefeitura se livra das trapalhadas de um e a cidade se livra do catálogo de erros gramaticais do outro. Todo mundo ganha.

Quando isso acontecer, aí então eu monto o meu pára-quedas e vou miar em outra freguesia. Afinal, como diz Chico Buarque: “Nós gatos já nascemos pobres, porém, já nascemos livres...”
Aventureiro em busca de sensacionalismo


Segundo o prefeito e seus assessores, é isto o que eu sou: “um aventureiro em busca de sensacionalismo” e mais, em relação ao jornal Folha de Corupá, eles dizem que não passa de um “panfletim feito no fundo de quintal”, “mantido com migalhas oriundas de fofocas maldosas”. E mais: sou “inescrupuloso”, “caluniador” e “difamador”, e tenho como único objetivo “esculhambar com a atual administração” e que, portanto, “mereço ser exemplarmente punido”. Esses são alguns dos adjetivos usados pelo prefeito e seus assessores no processo movido contra mim. Tudo bem. Cada um pode achar o que bem entender de mim. O Coni pode até falar mal do meu corte de cabelo. A Alice Maçaneiro pode achar que sou magro demais. O João Imbriani pode não gostar do modo como eu me visto.  A Celita Paterno pode até dizer que tenho mau hálito. Sandro Basso pode me chamar de Débil Mental. Tudo bem. A vida é assim. Mas, uma coisa é preocupante. Todos esses nomes que citei acima, exceto Sandro Basso, e mais os nomes de Denise Henn, Luiz Cieply, Ademar Machado, Diana Seidel, Lane Weidner, Oto Weber, João Gotardi, Adriano Hofmann, Juliano Scandolara, James Hernandez, Walfrido Weber, Jota Luiz, Ana Lúcia Siqueira, Claudete Gabriel, Maria Giraldi, Reginaldo Ropelato, Luciana Signoreli, Leandro Moldenhauer, Júlio Dominoni, Aldo Sell, João Sobrinho, Paulo Ruthes, Jean Marcel, Emanuelle Blunk e Evelia Sell, estão de acordo com uma queixa crime contendo, dentre outras, a seguinte alegação: “...qualquer irregularidade que por ventura venha a surgir decorrente da referida administração, será discutida por pessoas competentes em seus respectivos órgãos...”. Não estou muito familiarizado com termos jurídicos. Expressões como “animus diffamandi vel calumniandi” ainda me são estranhas. Mas a alegação acima eu já consigo compreender. Eles querem dizer que, se o prefeito trapalhão fizer mais uma de suas trapalhadas bizonhas, tal como comercializar bebida alcóolica, a imprensa não deve dizer nada. Devemos esperar que a questão seja discutida “por pessoas competentes em seus respectivos órgãos”. Acho que estou entendendo. Se o Secretário de Obras levar pra casa as lajotas da prefeitura, não devemos noticiar. É isso? Se uma promessa de campanha não for cumprida ou uma prestação de contas vier recheada de irregularidades, caluda, meu bem, caluda?
A audiência está marcada para julho. Manterei vocês informados sobre o desfecho dessa história. Dia desses, vi, em alguns carros na cidade, um adesivo com a seguinte frase: “Deixa o homem trabalhar”. Há alguns meses, nessa coluna, tracei um paralelo entre Coni e Lula. Agora, mais uma característica em comum. Lula usou esse mesmo slogan em sua campanha à reeleição. Estou começando a ficar preocupado. Oxalá as semelhanças parem por aí. Afinal, como vocês sabem, Lula foi reeleito e escapou de todas as CPIs. E por falar em trabalhar: Coni, deixa o Benedito trabalhar!
“Isso chama-se austeridade”.

Dia desses, fui convidado pelo Assessor de Imprensa da Prefeitura, (lembram dele? Não? Tudo bem, eu repito seu nome: Eduardo Mendes), para participar de uma coletiva de imprensa. Transcrevo aqui o convite: “Convite ao Benedito” (olha só a intimidade). “Pois bem. Aproveitamos para convidá-lo para a coletiva de imprensa, cujo tema será auditoria, nesta quinta-feira às 09h. na Prefeitura Municipal de Corupá. A partir desta o sr. terá todas as informações a despeito para fazer seus comentários. Eduardo Paz Mendes.” Essa mensagem estava endereçada somente a mim, como é possível perceber pelo cabeçalho do email. Os outros receberam outro tipo de convite. Chegando à prefeitura, fomos ao gabinete do prefeito, que passou a despachar em outra sala. Na coletiva, havia umas oito pessoas da imprensa, mais o Sec. de Finanças Adriano Hofmann e o Assessor de Imprensa (supracitado) Eduardo Mendes. Alguém comentou que a prefeitura poderia ter providenciado, além do café oferecido, uns biscoitos também. Essa turma é assim mesmo. Acostumada a receber favores do Estado. Só sobrevivem à custa do Estado. Faliriam sem a ajuda do Estado. Por isso estavam lá, atendendo, prontamente, ao chamado. Antes mesmo que Adriano se manifestasse em relação ao pedido de biscoito, o mais novo “soldado da força municipal”, Eduardo Mendes, tomou a frente e defendeu a atual administração, dizendo: “Não temos biscoito. Isso chama-se austeridade”. Realmente, essa administração preza pela austeridade!
Vamos às “Atitudes Austeras” da prefeitura:
1-      Mantém uma Assessoria de Imprensa que, além de produzir textos com a qualidade do transcrito acima, precisaria apenas de uma telefonista para fazer todo o trabalho. Isto é, ligar para quatro ou cinco jornais, duas ou três rádios e pronto. O salário de apenas um mês de Eduardo Mendes daria para comprar vários quilos de biscoito. Daria pra encher a pança de toda a imprensa da região, por várias e várias coletivas.
2-      - O Sec. de Finanças, Adriano Hofmann, já exerceu esse mesmo cargo na prefeitura de São Bento do Sul. E deve ter exercido o cargo com tamanha competência que o nosso Prefeito, Conrado Urbano Müller, o premiou com um cargo aqui em Corupá. Certo? Errado! Adriano Hofmann foi demitido da prefeitura de São Bento do Sul por justa causa, através de um Processo Administrativo. O que ele fez para merecer isso? Dentre outras coisas, deu baixa em impostos não autorizados, num total de R$ 148.572,72, segundo consta em seu processo.
3-       - Seguindo a trilha da “austeridade” da atual administração, alardeada por Eduardo Mendes, chegamos no mês de Novembro de 2006, quando o Coni criou um cargo chamado Diretor Administrativo, com um salário de R$ 2.400,00, e nomeou quem para ele? Algum corupaense? Não, seu bobão! Coni escolheu Adriano Hofmann!
4-       - A prefeitura tem: o Controle Interno, a Câmara de Vereadores e mais o Tribunal de Contas do Estado para analisar as contas da administração. Quando precisa de uma análise, o que ela faz? Recorre a eles? Não! Ela contrata uma empresa particular no valor de 72 mil reais! Haja austeridade!
Austeridade, para Eduardo Mendes, é não oferecer biscoito para a imprensa. Para mim, seria o Controle Interno ter analisado as contas, economizando 72 mil, demitir Eduardo Mendes (economizando mais uns trocados), aí então tratar a imprensa só à base de biscoitos finos, chás indianos, cadeiras macias, e coletivas só depois das 10 da manhã.

Isso sim chama-se  austeridade!
Décadence avec élégance

O melhor filme a que eu já assisti na vida, até hoje, foi “Os Imperdoáveis”, de Clint Eastwood. Eu já vi a esse filme, de 1993 até hoje, sem exagero, umas 128 vezes. Decorei todas as falas, todas as cenas, luzes. Tudo. Não entendo nada de cinema, mas sou Phd em “Os Imperdoáveis”. Em determinada altura do filme, como em todo faroeste, chega o momento crucial em que Clint Eastwood, um cowboy sangue frio do Missouri, e Gene Hackman, um xerife desonesto, se enfrentam e lançam mão da célebre frase: “Essa cidade é pequena demais para nós dois.”

Corupá, em vários aspectos, faz lembrar aquela remota cidade do Wyoming onde o filme foi ambientado. Não fosse os cabelos brancos, Sandro Basso seria o próprio Gene Hackman. Até as histórias dos dois tem ligações. Hackman, após ter saído de casa aos 16 anos, foi fazer jornalismo na Universidade de Illinois, aí resolveu abandonar a faculdade e fazer um curso técnico de rádio. Por fim, resolveu tentar a carreira de ator e se matriculou na Pasadena Playhouse, na California. A Secretaria de Educação voltou a oferecer curso de teatro. Sandro Basso poderia se inspirar na vitoriosa trajetória de Gene Hackman e ir estudar artes cênicas. Já ficou provado que jornalismo e rádio não são a praia de Sandro Basso. Quem sabe ele, tal qual Hackman, descubra sua real vocação. Na última edição do Jornal de Corupá (alguém chegou a ler?) a primeira manchete é: “União faz a força.” Essa manchete é o suprassumo da falta de criatividade. É quase um antijornalismo. Essa expressão está mais gasta do que a fórmula mocinho-bandido dos Faroestes. Mais gasta que o já estereotipado tema de redação: “Minhas férias.” Vou lançar uma campanha e conto com a sua ajuda, leitor. O mote da campanha será: “Queremos Sandro Basso fazendo teatro.” Seria uma despedida gloriosa. O que está lastimável é ver Sandro Basso e seu Jornal de Corupá publicando matérias com até 30 dias de atraso. Sandro me lembra o Garrincha em final de carreira. Gordo, sem habilidade, vivendo apenas do nome e daquilo que ele foi um dia, e já sem o menor tato com a bola. O Ronaldo Fenômeno está incorrendo no mesmo erro que Garrincha e Sandro Basso. Deu pena ver o Ronaldo matar de canela as duas bolas que, em quase 30 minutos, ele conseguiu chegar. Se o exemplo de Gene Hackman não seduz Sandro Basso, sugiro que siga os conselhos do cantor e compositor Lobão: "Décadence avec élégance."



Se você fosse sincera, ôôôôôô, Aurora


O Carnaval começa amanhã. Não vou poder viajar. E como eu não vou poder viajar, vou dizer a quem me perguntar que não gosto de carnaval. Vou dizer que não queria mesmo viajar. Igual aquela velha história das raposas e das uvas. Ou da história, mais recente, de Sandro Basso, dizendo que não se importa com a velocidade da informação. Já que uma viagem está fora de cogitação, tratei de pegar emprestado um bom livro de Machado de Assis para me fazer companhia nesse feriado prolongado. Escolhi a “Teoria do Medalhão”.
Sei que é difícil achar quem goste de Machado de Assis. Sei que muitos o acham aborrecido. Entretanto, ler Machado de Assis nos ajuda, até, a entender certas coisas que acontecem bem perto de nós. E pode, inclusive, nos livrar de certas situações constrangedoras. Quer ver?  O vereador João do PT não leu Machado de Assis. Se leu, não entendeu a ironia ou não leu o que deveria. Se tivesse lido, não teria feito o papelão que fez durante a primeira sessão ordinária do ano na Câmara de Vereadores.
Se João do PT tivesse lido a “Teoria do Medalhão”, por exemplo,  de Machado de Assis, ao invés de ter lido “O Manifesto Comunista”, ou “Raízes do Brasil”, ou ainda “O Capital”, ele não teria usado a tribuna para condenar algo que ele mesmo praticou.
Não precisaria ter lido o livro todo. Embora curto, poderia ter lido apenas alguns parágrafos. Seria o suficiente para livrá-lo da situação embaraçosa que ele teve que enfrentar no último dia 16.
Se João do PT não vai ao Machado de Assis, Machado de Assis vem ao João do PT.
O parágrafo redentor a que eu me referi é o que segue abaixo:

“- Se for ao Parlamento, posso ocupar a tribuna?
- Podes e deves; é um modo de convocar a atenção pública. Quanto à matéria dos discursos, tens à escolha: - ou os negócios miúdos, ou a metafísica política, mas prefere a metafísica. Os negócios miúdos, força é confessá-lo, não desdizem daquela chateza do bom-tom, própria de um medalhão acabado; mas, se puderes, adota a metafísica; - é mais fácil e mais atraente. Supõe que desejas saber por que motivo a 7ª companhia da infantaria foi transferida de Uruguaiana para Canguçu; serás ouvido tão somente pelo ministro da Guerra, que te explicará em dez minutos a razão desse ato. Não assim a metafísica. Um discurso de metafísica política apaixona naturalmente os partidos e o público, chama os apartes e as respostas.”
O grifo é meu. De mim para João. Com afeto.
Para quem prefere pular carnaval e não leu, e nem vai ler, a “Teoria do Medalhão” de Machado de Assis, e tampouco esteve presente à Câmara no último 16, saiba que o ponto que une esses dois assuntos é o seguinte: João do PT já declarou, em outras ocasiões, que nunca usou contas adiantamento ou diárias, enquanto ocupou a Chefia da Divisão de Esportes. Acontece que a Presidente da Câmara, a vereadora Margot Hauffe, preparou um farto material onde fica comprovado que, diferente do que o vereador diz, ele usou sim, enquanto Chefe da Divisão de Esportes, tanto as diárias quanto as contas adiantamento. Inclusive com valores acima de mil reais. João do PT não deu ouvidos ao Machado de Assis e foi tratar de “negócios miúdos”. Deu no que deu. Preferisse a metafísica, tal como falar do Partido dos Trabalhadores, como de fato deu indícios de que faria, teria evitado a dolorosa e primeira lambada da nova legislatura. Muitos podem achar esse episódio irrelevante, mas não é. Ele pode, inclusive, direcionar as futuras votações. O mancebo Sidnei Schwerdtner está em busca de um líder. Pensou ter achado esse líder no João do PT. Mas, ao ver a primeira investida do futuro mestre dar em nada, é possível que tenha repensado sua decisão.
Sei que se ele olhar para o seu lado direito, as ofertas não são muita melhores. Isso pode, inclusive, resultar em algo pior. Ele pode eleger como seu guru o Everaldo Mokwa. Para os que gostam de Machado de Assis, o texto acaba aqui. Para quem gosta de carnaval e do PT, segue uma marchinha:
“Se você fosse sincera
Ô ô ô ô Aurora
Veja só que bom que era
Ô ô ô ô Aurora”.





Não elogio mais


Na última terça-feira, eu assisti ao amistoso da seleção brasileira contra a Itália. Em determinada altura do jogo, resolvi, gratuitamente, e sem nenhum propósito, elogiar a narração de Galvão Bueno. Não gosto do Galvão Bueno. Pelo contrário. Acho ele intragável. Eu o vejo como uma espécie de filósofo do óbvio. Eu estou vendo que a bola foi lançada. Não preciso da ajuda dele para perceber que bola foi a escanteio, por exemplo. Não se passaram cinco minutos para que eu me arrependesse de tê-lo elogiado. E o arrependimento me atacava agudamente a cada vez que ele insistia em chamar o goleiro da Itália, cujo nome é Gianluigi Buffon, de “Gianluca” Buffon. Se ele estivesse narrando um jogo qualquer, como Joinville e Figueirense, por exemplo, e tivesse chamado de Fábio, ao invés de Fabiano, o goleiro do Joinville, tudo bem. Acontece que estamos falando do goleiro mais famoso do planeta, o campeão da última Copa. O goleiro da Itália em 1994, sim, era Gianluca, o Pagliuca. Bem feito pra mim. Elogiar é sempre perigoso. Na coluna da edição 35, de 24 de janeiro, eu incorri no mesmo erro. Gratuitamente, e sem nenhum propósito, eu elogiei a atitude do vereador João do PT por ele ter chamado à câmara o senhor Norberto Müller, para prestar esclarecimentos sobre a prestação de contas dos Bombeiros. Fiz mais que isso. Disse que ele havia começado bem. Eu não aprendo mesmo. Foi só elogiar e ele fez lambança. João do PT é o Galvão Bueno da massa sindical. É o  nosso filósofo do óbvio.
Na sessão seguinte àquela a qual eu o elogiei, o vereador achou por bem dar um parecer apartado ao projeto enviado pelo executivo que pretendia aumentar as diárias do Prefeito, do Vice e dos Secretários Municipais. João do PT achou que aumentar de R$ 150,00 para R$ 200,00 a diária dos secretários; e de R$ 250,00 para R$ 300,00 a diária do Prefeito e do Vice era um exagero. E disse mais. Disse que em tempos de crise econômica, não soaria bem um aumento. Acontece que apenas uma coisa torna insustentável o argumento do João PT. Essa coisa é o valor da sua própria diária. Se João do PT for a Florianópolis em busca de algum recurso - o que eu considero uma atitude louvável, pois acredito que essa seja uma das principais funções de um homem público, sobretudo quando de um município com pouca verba como é o nosso caso - ele receberá uma diária de exatos R$ 300,00. Os mesmos R$ 300,00 que, se dados ao prefeito, é muito. Sugiro, então, que, para o bem da economia mundial, João abra mão de sua diária. Vai a São João do Itaperiú? Que frete um jubaio manco. Com certeza, os 300 reais seriam mais do que suficientes. Sandro Basso sabe do que eu estou falando. Ele elogiou o pedido de vistas do Dr.º Marcelo. Uma semana depois, o médico voltou atrás e desapontou Sandro Basso. Não elogio mais ninguém. Nem se Sandro Basso aprender que um parecer é apartado, e não “aparteado” ou o João do PT aprender a comparar valores.






A velocidade da informação



Eu gastei 35 reais e já mandei emoldurar a última edição do Jornal de Corupá, de Sandro Basso (alguém aí se lembra da última edição? É que ela saiu já faz certo tempo). A edição que vai ganhar, além de uma moldura, um espaço na parede da minha sala, é aquela que saiu no último dia 09 de fevereiro e trazia uma matéria sobre a posse do atual prefeito, acontecida dia 01 de janeiro.  O texto intitulado “Registrando a história de Corupá”, na página 2, diz “... o Jornal de Corupá não se preocupa com a velocidade da informação, ... serve como um documento histórico mensal dos fatos mais importantes que acontecem em nossa cidade...”. A prova dessa última afirmação é facilmente encontrada. Na página 12 da mesma edição, Sandro Basso registra um dos fatos mais importantes da história de Corupá, desde a eleição de Tito Steingraeber ou da instalação do município, em 25 de julho de 1958. Ele usa um quarto de página para dizer que o Darlei saiu do PMDB e foi para o PSDB. Ouvi dizer que o New York Times, nesse dia, ficou indeciso entre essa manchete e a posse de Barack Obama.
Diante da declaração de Sandro Basso, quando ele diz não se preocupar com a velocidade da informação, uma curiosidade me assalta. Com o que Sandro Basso se preocupa? E ele parece ser uma pessoa muito preocupada, a contar pela brancura precoce de suas madeixas. Será a Reforma Ortográfica? O preço do papel? A produção do gás sulfúreo? Para que você pudesse ler, aqui em Corupá, no conforto de sua poltrona, que centenas de pessoas saíram em protesto ao Hamas, nas ruas da cidade paquistanesa de Dera Ghazi Khan, ou para que você pudesse, através de um único clique, saber pela internet que civis enfrentam falta de alimentos no Sri Lanka, devido às ofensivas do Exército de Libertação dos Tigres do Tamil Eelam”, anos de pesquisas foram gastos e bilhões de dólares foram investidos. Tudo porque o mundo moderno admite, com exceção de Sandro Basso, que a velocidade na informação é fundamental.
Sandro Basso me lembra Shoichi Yokoi, aquele soldado japonês, encontrado escondido na ilha de Guam, 27 anos após o término da Segunda Guerra Mundial, sem saber que a guerra havia acabado. Se dependesse de Sandro Basso, e de seu mensal Jornal de Corupá, o pobre japonês ainda estaria na ilha de Guam, paranóico, combatendo os miseráveis Yankes. Sandro Basso diz que o objetivo de seu jornal é apenas registrar os fatos, sem preocupação com a velocidade. Eu sugiro que, paulatinamente, ele dê maiores intervalos na periodicidade de seu jornal. Bimestral. Semestral. Anual. Por fim, edições apenas em anos bissextos. Assim, com esse intervalo, talvez apareçam notícias tão importantes quanto a troca de partido do Darlei.
Neguinho

“... neguinho compra 3 TVs de plasma, um carro, GPS e acha que é feliz...” Eis um trecho da música “Neguinho”, de Caetano Veloso, cantada por Gal Costa, no Cd “Recanto Escuro”, lançado ano passado.
Eu já tinha perdido as esperanças em Caetano até ouvir esse seu último trabalho. Assim como já tinha perdido as esperanças nas inovações tecnológicas até conhecer o GPS. Por conta do trabalho de minha mulher, ela teve que adquirir um aparelho desses. Minha relação com a tecnologia sempre foi tardia. O primeiro computador? Eu tinha 23 anos (hoje tenho 36). Mp3? Há 3 anos. O primeiro Notebook? Há um ano. Iphone? Ainda não cheguei lá.
Na verdade, esses meus 18 anos em Curitiba já me deram uma grande autonomia para transitar pela cidade toda sem o auxílio de um GPS. Mas o uso que eu faço do aparelho é outro. A voz aveludada que vem com a marca do aparelho escolhido por minha mulher me é uma companhia no trânsito. Mesmo nos caminhos mais conhecidos, lá vou eu digitar o endereço para dirigir acompanhado. “Prepare-se para fazer uma curva levemente à esquerda a 300 metros”. Lá vou eu obedecer aquilo que, hoje, devido à familiaridade, já parece ser a voz da minha consciência. E essa companhia tecnológica tem suas vantagens. Se eu erro o trajeto, por exemplo, nada de bronca. Apenas uma singela e complacente frase: “recalculando a rota”. Mas, como a engenhoca é uma criação humana, não haveria como não trazer resquícios de nossa personalidade. Por vezes, o aparelho lembra minha mulher. “Você está acima do limite de velocidade”. Dessa vez, a voz não tem candura ou complacência alguma. É quase a voz de uma ordem policial. Atônito, desacelero logo. Já minha mulher (embora ela tenha pedido para não contar) tem uma reação diferente. Dia desses, eu a surpreendi discutindo com o aparelho. “Eu vou é reto. E outra coisa, o limite de velocidade nessa rua é 60, e eu estou a 50 quilômetros por hora, ouviu?” disse minha mulher, enraivecida. Quando a questionei sobre a possibilidade desse ato, conversar com um objeto inanimado que nunca irá servir-lhe de interlocutor, ser um sintoma de uma patologia, minha mulher veio com esta: “Já estou acostumada. É bem parecido quando eu falo com você enquanto você está assistindo televisão. E ainda com uma vantagem. O Gps não me responde de forma ríspida se eu exagero no tom”.
O aparelho traz três opções de voz, duas femininas e uma masculina. A primeira, eu usei somente uma vez. Ela me causa arrepios. Me lembra uma antiga professora, a Dona Niúra. Quando eu executo uma manobra diferente da ordem dada, eu antevejo, e pareço ouvir de fato, a repreensão. “Entre à esquerda na próxima rua”. Continuo reto. Pareço ouvir a professora da infância: “mas que menino teimoso. Você não me ouviu dizer à esquerda? Estou falando grego?”. A voz masculina me parece um locutor de rádio FM. “Entre à direita. E vamos juntos até chegar o destino, num oferecimento da funerária ...” Não dá. Como vou conseguir dirigir ouvindo uma espécie de filial da rádio Caiobá FM?
O aparelho tem, também, algo de místico, de transcendental. É quase religioso. “Eu o guiarei até o seu destino”. Quase profético. Dia desses, digitei: “qual será o meu destino”. Ao que a máquinas respondeu: “Jamais saberás!”

 “... neguinho compra 3 TVs de plasma, um carro, GPS e acha que é feliz...”
O mundo está ao contrário e ninguém reparou

“O mundo está ao contrário e ninguém reparou” diz a composição de Nando Reis, interpretada pela saudosa Cássia Eller. Que o mundo está ao contrário ninguém pode ter reparado, disso eu sei, mas o que veio de gente reclamar comigo pelo fato de a coluna da edição passada ter saído ao contrário (de cabeça para baixo) foi um colosso.
“Você ficou maluco, Benedito?” me disseram os mais exaltados. “Ficou difícil de ler, tive que virar o jornal e me contorcer inteira” disseram os mais preguiçosos. “Nem li”, deve ter dito o Coni e outros neurastênicos.
Na verdade, ter publicado a coluna de cabeça para baixo (ou de ponta-cabeça, como se diz no Paraná) foi apenas uma introdução pictórica, utilizando o corpo do texto e seu espaço gráfico como uma ferramenta plurívoca, multisignificante, para evocar a semiótica do contraste, blá, blá, blá ... Que nada, foi coisa de quem não tem o que inventar. Perdão a quem fiz doer o ciático no malabarismo para ler a coluna. Prossigamos ...
Eu já falei aqui que, quando eu tinha apenas uma antena parabólica, sentia necessidade de uma antena interna, para assistir ao Jornal do Almoço, saber das notícias da região e ouvir os comentários do Prates. Depois, passei a ter acesso, somente, à programação regional, inclusive aos comentários do Prates. Foi aí que minha ânsia por uma parabólica voltou a ganhar força. Mas, as coisas mudam, sempre. Uma antena interna, por favor.
Durante essa campanha eleitoral, tenho que me contentar em ouvir os programas eleitorais apenas pelo rádio, pois não tenho antena interna para assistir ao horário político pela televisão. Mas, na última quarta-feira, tive o prazer de assistir ao meu primeiro programa desse ano. Na casa de amigos, com cerveja e petiscos? Nada. Na cadeira de um consultório odontológico. Confesso. Extrair um molar deve ser menos dolorido do que aturar, por exemplo, o jingle do candidato a deputado estadual pelo PPS, o catarinense Claudir Maciel. Trata-se de uma paródia mal feita da música “I Want to Break Free”, da banda inglesa Queen. Ou então ouvir a versão de “Rebolation” “... O Dalvesco também "é bom bom bom ..." do socialista catarinense Cláudio Dalvesco, candidato a deputado estadual. Tudo bem, eu sei que nada supera a paródia feita de "Beat it", do Michael Jackson, criação do democrata paraibano Lindolfo Pires, candidato a deputado estadual. Vocês perderam esse programa? Não tem problema, basta procurar no youtube. São os vídeos mais acessados desses últimos dias.
Durante o meu tratamento, eu soltei vários e ruidosos “Ai, ai, ai”. O dentista logo parava, cuidadoso, pensando que eu estava reclamando de dor no dente, quando, na verdade, o que me doia eram os ouvidos, ao ouvir tanta bobagem.
Pior que isso, somente quando a televisão passou a falar sobre o jogo que aconteceria naquela noite, entre Flamengo e Grêmio. O dentista, que até então estava tratando do meu canino, passou, lepidamente, a tratar do molar inferior. “Ai, ai, ai” gritei. Enquanto ele, serenamente:
- Não fica com medo, não. O Mengão leva essa fácil!

“Ai, ai, ai ...”
Mudança

Na última segunda-feira eu mudei. Quer dizer, mudei de endereço. Me mudei de apartamento. Para outro apartamento. Outro apartamento menor, inclusive. Afinal, nem todas as mudanças são para melhor. Apesar do cansaço, pois tive que ajudar a carregar os móveis, eu gosto de mudanças. Mudanças em todos os sentidos. Encaixotando o que havia pra se encaixotar (só nas mudanças é que nos damos conta do tanto de coisas inúteis que guardamos ao longo do tempo) me deparei com algumas fotos antigas. Percebi, então, como é a que a gente também muda ao longo do tempo. Fotografias de eu menino ainda, no remoto bairro do Aeroporto, na interiorana cidade de Londrina, interior do Paraná, que foi onde eu nasci. De lá, traga ainda, além de umas fotos, o “r” puxado, em palavras como “porta” e “portão” (que muitas gozações me renderam aqui em Curitiba, onde passei minha adolescência) e uma saudade de algo que eu ainda não consigo definir. Quem conhece Londrina talvez entenda o que eu estou falando. Na verdade mesmo, não precisa conhecer Londrina para entender o que eu estou falando. Basta ter mais de 30 anos. A saudade, na verdade, são dos sonhos de infância, das idealizações, do futuro que havíamos planejado. Meu filho, de 10 anos, me vendo manusear uma foto, pergunta: “Quem é esse?” apontando para uma das fotos. “- É o papai”, eu respondo. Depois disso, ele sai e vai desarrumar algo que eu e minha mulher já havíamos arrumado. Eu fico ali, olhando para a foto e pensando na minha resposta. Só desperto quando minha mulher grita pedindo minha ajuda com a geladeira. Reviro documentos e contas antigas, e me lembro das preocupações que elas me geraram. Hoje, são passado. E eu continuo vivo. E mais. Vivo e mudando. Mudando sempre. Claro, às vezes para pior.
“Os bons morrem jovens.” 

Quase todos os norte-americanos, com mais de cinqüenta anos, se lembram, com exatidão, onde se encontravam, a que horas e em quais situações, quando receberam a notícia do assassinato do presidente John Kennedy. Assim como a maioria dos italianos, com mais de 33 anos, também se recorda, com riqueza de detalhes, onde estava quando o goleiro Dino Zoffi defendeu a bola cabeceada pelo zagueiro da seleção brasileira, Oscar, no último minuto do jogo válido pela Copa do Mundo de 1982. E também muitos brasileiros sabem dizer onde estavam no dia 1º de maio de 1994, quando morreu o piloto Airton Senna. Quanto a mim, você pode me perguntar o que quiser em relação a como estava o mundo naquela distante segunda-feira, dia 21 de agosto, do ano de 1989, às 14 horas e 12 minutos.
Tudo começou com aquela horripilante vinheta do Plantão da Globo. Eu havia me mudado, há pouco, de Londrina para a cidade de Palotina, oeste do Paraná, e contava com 13 anos. Cursava a 7ª série do extinto primeiro grau. Cheguei da escola por volta das 12h30. Havia feito uma prova de matemática e minha sensação era de que não havido ido bem. Almocei arroz, feijão, e fígado de boi frito. Nunca gostei de fígado de boi, mas, minha mãe, de tempos em tempos, inventava uma nova dieta para a família. A pior de todas foi a dieta à base de Tofu (outro dia eu conto essa história com mais detalhes). Depois do almoço, fui ajudar minha mãe na horta que ela havia cultivado. Éramos novos na cidade e uma das únicas diversões era passar horas na companhia de rabanetes e acelgas. Às 14 horas em ponto, minha mãe pediu que eu me lavasse e sentasse no sofá da sala, pois ela iria trazer um bolo que havia feito. Obedeci, me lavei, sentei no sofá e liguei a televisão. Ela trouxe o bolo. Tinha até um nome pomposo: “Almofadas Francesas”. Ela dizia ter visto a receita na televisão. Mas, das duas uma: ou ela usou as espumas das nossas próprias almofadas na confecção do bolo, ou errou os ingredientes ao copiar a receita. Enquanto eu pensava em uma maneira educada para dizer que o bolo estava intragável, a televisão foi invadida por aqueles microfones voadores, girando ao som daquela vinhetinha macabra. A repórter Ilze Scamparini, visivelmente abatida, disparou a notícia: “Morreu nessa manhã, na cidade de São Paulo, o cantor e compositor Raul Seixas.” Além de ter sido uma ótima desculpa para eu ter largado o bolo após uma única mordida, aquelas palavras calaram fundo em mim. Corri pro meu quarto, vasculhei a minha coleção completa de LP’s de Raul Seixas e coloquei para tocar a música: “Areia da Ampulheta”, última faixa do lado b, do álbum “A Pedra do Gênesis”, lançado em 1988, pela Copacabana, último disco solo de Raul. Lá pelas tantas, o Maluco Beleza diz: “Eu sou a areia da ampulheta/ O ignorante cultivado/ O cão raivoso inconsciente/ O boi diário servido em pratos/ Cachaceiro mal-amado/O triste-alegre adestrado/ Eu sou a areia da ampulheta/Mas o que carrega a sua bandeira/ De todo o lugar o mais desonrado/ Nascido no lugar errado/Eu sou, eu sou você.”
No dia 11 de maio de 1988, uma quarta-feira, eu e meu pai tínhamos ido a um show de Raul, no ginásio do Moringão, em Londrina. Ele havia acabado de lançar o seu último disco, “A Panela do Diabo”, em parceria com Marcelo Nova, da banda Camisa de Vênus. Raul mal conseguia se manter em pé no palco. As canções eram quase balbuciadas. Não fosse a ajuda do Marcelo, não teria como distinguir uma música da outra. Eu era um menino de 12 anos, deslumbrando e confuso com aquela gente estranha que vibrava e aplaudia cada gesto e cada palavra de um cantor desafinado. Mal sabia eu que os fãs já pressentiam que aquela seria a última vez que veriam o Gênio em ação.

Renato Russo, da Legião Urbana, disse: “Os bons morrem jovens.” 
Disk-político

Dia desses, relendo algumas colunas que eu escrevi ao longo dessas 136 edições da Folha de Corupá, me deparei com dois textos que continuam atuais e poderiam, caso eu fizesse apenas alguns pequenos ajustes, ser publicadas na edição de hoje. Uma delas, intitulada “Cenas do próximo capítulo” falava sobre a recompensa de se ir a todas as sessões da Câmara de Vereadores. Vez ou outra acontecem discussões interessantíssimas por lá. Na  outra, eu falava sobre o fato da Secretaria de Saúde ter gastado, no ano de 2007, 13 mil reais em contas telefônicas e pouco mais de 10 mil em exames, na coluna intitulada “Tudo são flores na saúde de Corupá”.
Tal como diz a música “A história se repete”, composição dos geniais Sivuca e Paulinho Tapajós, de fato, a história se repete.
O Presidente da Câmara, o vereador João do PT, divulgou, na sessão do último dia 21, os gastos com telefones celulares pagos pela Câmara de Vereadores (leia-se corupaenses). Dr.º Marcelo é o campeão das ligações. Foram 8.917 minutos em 20 meses. Uma média de 445 minutos por mês. 445 minutos também é conhecido como “pouco mais de 7 horas e meia”. Parece que esse interesse por ligações telefônicas é mesmo algo comum aos profissionais da saúde. Marcelo se defendeu, dizendo que “se eu estou falando bastante é porque estou trabalhando”. Besteira. Se falar muito fosse sinal de trabalhar muito, o vereador Alceu Minatti poderia ter sido cassado quando foi vereador entre os anos 2005 e 2008. Entre os anos de 2007 e 2008 eu fui a todas as sessões da Câmara. Não falhei uma. E nunca ouvi, sequer, a voz de Alceu. Mas, claro, isso não significa que ele não tenha trabalhado. Me lembro de um projeto seu, aquele que dizia, é, aquele outro, ah... deixemos para lá. Voltemos à legislatura atual. Se falar muito é sinal de trabalhar muito, meu primo Ludovico é um vadio. Não fala nada. Nunca falou. Desde que nasceu permanece mudo. E acredito que vá morrer mudo, porque, pelo que eu saiba, ainda não inventaram cura para o mutismo. Se falar muito fosse sinal de trabalhar muito, os comunicadores Marcelo Luiz e Cláudio Silvino poderiam ser considerados uns workaholics. Como falam esses dois.
Mas, tudo bem. Cada um fala o quanto quiser. Acontece que o problema, em si, nem é esse. O problema maior foi a justificativa que o vereador Marcelo usou para tanto tempo pendurado no telefone. E isso não foi discutido na Câmara. Marcelo disse: “como não estou presente no município, essa foi a forma que eu encontrei para me comunicar com as pessoas e ajudar os eleitores”.
Então, se em 2007, a Secretaria de Saúde, capitaneada interinamente por Alice Maçaneiro, inventou a medicina telefônica, o vereador Marcelo acaba de inaugurar o Disque-Vereador. No que eu concordo. Gostaria muito que os políticos, todos eles, atendessem as ligações. Fiz uma pesquisa e encontrei os números de alguns políticos que merecem nossas ligações. Quem se habilita?
José Sarney: (61)3303-3429/ (61) 3303-3430. Acho que eu teria umas coisas para falar a ele. Deputado Federal Hidekazu Takayama: (61) 3215-5910. O que dizer pra esse japonês? E, para quem quiser tentar, aqui vai o celular do vereador Dr. Marcelo: (47) 9151-9497. Eu só não posso dar certeza de que esse é mesmo o número dele. Eu tentei ligar, por diversas vezes, mas só deu ocupado.
Quem se habilita?



Quem ouviu (ouviram) o brado retumbante?

Dia desses, meu filho, de 8 anos, veio me questionar sobre passagens da letra do Hino Nacional Acontece que, desde setembro de 2009, as escolas, públicas e privadas, de todo o país, passaram a ser obrigadas a executar, semanalmente, o Hino Nacional. A lei, de autoria do deputado Lincoln Portela (PR-MG), foi sancionada pelo vice-presidente em exercício na ocasião, o finado José Alencar.
Em 1936, Getúlio Vargas determinou, pela primeira vez no país, a obrigatoriedade da execução do Hino nas escolas de todo o Brasil. Em 1971, durante o regime militar, o General Emílio Garrastazu Médici também criou uma lei obrigando a execução.
Para a maioria dos estudantes, ser obrigado a cantar o hino, semanalmente, será uma espécie de castigo. Já a maioria dos professores, e outras pessoas cuja lei não irá alcançar, estão eufóricos com a ideia. A todos esses que concordam com a obrigatoriedade da execução do hino, aqui vai um pequeno teste:

Leia atentamente a primeira estrofe do Hino Nacional (texto abaixo) e, sem consultar o Google, responda:

“Ouviram do Ipiranga as margens plácidas, de um povo heróico o brado retumbante. E o sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria nesse instante.”
Questão 1:  - Quem ouviu (ouviram) o brado retumbante?

A cantora Vanusa nasceu em 1947. Portanto, ela ainda estava na escola à época em que obrigavam a execução do hino. A contar pelo desempenho da cantora durante sessão na Assembleia Legislativa de São Paulo, a obrigatoriedade não traz o resultado que o deputado usou como justificativa para o projeto: “nada melhor que a prática de cantar o Hino para torná-lo cada vez mais familiar em seus sentimentos”. Essa é uma lei que já nasceu morta em seus objetivos. E o deputado segue se justificando: “O Hino Nacional deve representar para a sociedade a busca constante para o crescimento da pátria.” O PR (Partido da República) é o mesmo partido de Inocêncio de Oliveira. Portanto, “a busca constante para o crescimento da pátria” como quer o deputado, não veio com a obrigatoriedade da execução do hino.
Caros alunos. Getúlio Vargas era a favor da obrigatoriedade da execução do Hino Nacional nas escolas de todo o Brasil. E mais o Médici, o Inocêncio de Oliveira e a maioria dos professores. Se essa gente é a favor de alguma coisa, pode me acreditar: isso só pode ser ruim.
Só um último detalhe: Quem ouviu (ouviram) o brado retumbante?




Progressos desnecessários

Há muito tempo atrás, eu comentei aqui na coluna uma afirmação feita por Sandro Basso em seu “Jornal de Corupá”, em que ele dizia “não se preocupar com a velocidade da informação (...)” segundo ele, sua preocupação era “apenas registrar os fatos importantes que aconteciam em nossa cidade”. Acabei de encontrar mais um jornalista que cabe, perfeitamente, no mesmo time de Sandro Basso. Trata-se de Luiz Carlos Amorim, o mesmo Luiz Carlos Amorim que eu citei na coluna passada, escritor corupaense, radicado em Joinville. A pérola com que Luiz acaba de nos agraciar, e fazer dele um par perfeito com Sandro Basso, foi publicada na edição do último dia 26, no jornal “A Notícia”, no encarte AN Jaraguá. Em seu artigo intitulado “Corupá em evidência”, depois de linhas e linhas de um ufanismo provinciano e contradições absurdas (ele chega a dizer, textualmente, que “a cidade precisa de mais investimentos” para, depois, dizer ... você já vai saber, mais a frente, o que ele chega a dizer), lá pelas tantas, quando eu estava já desistindo do texto, Luiz dispara “...Dar mais conforto ao turista, sem descaracterizar as tradições e costumes do lugar, sem agredir o corupaense com progressos desnecessários”.
Progressos desnecessários. Progressos desnecessários. Progressos desnecessários.
E continuo, até hoje, com essas palavras a me latejar as têmporas. O que raios vem a ser “Progressos desnecessários”? O próprio Luiz Carlos não diz, em seu texto, o que vem a ser um progresso desnecessário. Então, de tão intrigado que fiquei com essa afirmação, comecei minha pesquisa tão logo terminei a leitura do texto. Meu filho estava ao meu lado, então aproveitei:
- João, você sabe o que quer dizer “Progressos desnecessários”?
- HÃ??? – respondeu o pequeno de sete anos.
Fui ao Google.
Experimente você também. Vá ao Google e digite “Progressos desnecessários”, com ou sem aspas, e clique no botão “estou com sorte”. Então? O que aparece? O tal texto de Luiz Carlos Amorim? Claro! Só ele, em todo o planeta, é capaz de concordar o adjetivo desnecessário com o substantivo progresso. Porque, na verdade, isso não existe. Todo progresso é necessário. Se for desnecessário, não pode ser considerado um progresso. Isso é elementar. Não satisfeito, fui ao dicionário. Lá está:
Pro.gres.so sm (lat progressu): 1 - Marcha ou movimento para diante. 2-Adiantamento cultural gradativo da humanidade. 3 - Melhoramento gradual das condições econômicas e culturais da humanidade, de uma nação ou comunidade. 6 - Transformação gradual que vai do bom para o melhor. 7 - Crescimento, aumento, desenvolvimento. 8 - Adiantamento, aperfeiçoamento ou melhoramento contínuos. 9 - Vantagem obtida; bom êxito. Antônimo: decadência, retrocesso. 
Agora, gostaria de saber o quê, disso tudo acima, seja desnecessário.

Você ainda está no Google? Então, digite “Luiz Carlos Amorim”. Agora, clique em “estou com sorte”. Então? O computador desligou? Não? Então, você não está com sorte!
Cadeira de praia

Entre uma cadeira na praia e os comentários de Luiz Carlos Prates o que você escolhe? Eu fico com a cadeira. E não é de hoje. Em colunas anteriores eu já havia proposto uma troca similar. Eu clamava para que alguém trocasse comigo uma antena interna por uma parabólica e, de lambuja, levassem o Jornal do Almoço e mais os comentários de Luiz Carlos Prates juntos. O Grupo RBS se rendeu a minha proposta. Trocou o colunista por uma cadeira. Você já viu o espaço da página 2 do Diário Catarinense nesse verão? Está sendo ocupada por uma coluna chamada “Cadeira de Praia.” A empresa não confirma, mas a saída de Prates ocorreu após manifestações de protesto contra alguns comentários feitos por ele na RBS TV. Em um deles, responsabilizou o governo Lula e os “miseráveis” pelo aumento do número de acidentes nas estradas. Em outro, defendeu a ditadura militar, afirmando que o regime fora mais brando do que se noticia e que o país nunca cresceu tanto quanto nessa época, especialmente sob o comando do ex-presidente João Figueiredo.
Na ocasião, eu me referi ao Prates como o “Dinossauro Simplista da Extravagância”. Agora que volto a falar nele, o título é: Dinossauro Simplista da Extravagância e da Contradição. Prates é uma espécie de Dercy Gonçalves do colunismo de opinião.
Em sua coluna no jornal O Correio do Povo (que preteriu a cadeira de praia em favor de Prates) da última quarta-feira, dia 8, intitulada “Casamento e trabalho”, depois se enrolar numa tentativa malbaratada de traçar um paralelo entre casamento e RH, o velho Prates nos ensina três virtudes imprescindíveis para se conseguir um bom emprego. As duas primeiras bobagens eu não me recordo. Porém, uma delas me chamou a atenção. Prates diz que para se conseguir um bom emprego “é preciso saber segurar a língua”.
Prates não soube segurar a sua e, agora, ao invés de escrever para o DC, escreve para O Correio do Povo. E volta acelerando em suas sandices e contradições.
Na mesma coluna do dia 8, ele volta a falar dos militares. “Por que não há bullying em colégios militares? Muito simples, os colégios militares tem na disciplina o seu alicerce incondicional, indiscutível. E mais, observam os princípios de hierarquia e meritocracia” diz Prates.
Meritocracia? Os colégios militares usam o livro: "História do Brasil: Império e República", de Aldo Fernandes, Maurício Soares e Neide Annarumma. Nesses livros, os autores chamam o golpe militar de 64 de “revolução democrática”.
Em qualquer curso de oratória, por mais barato que seja, aprende-se a lição número um da persuasão: “Não interessa o que é dito, mas sim o ‘como’ é dito”. Prates é Phd nesse recurso. Repete meia dúzia de chavões, sempre com um tom indignado, e fica à espera dos aplausos que, como tem ocorrido, invariavelmente, vem. Nem que seja às custas de ranzinzices inflamadas maquiadas de soluções heróicas, mas que, no entanto, nos faz corar de tão simplistas.

Vai uma cadeira de praia aí?
Adam Smith

“Se, aos 20 anos, você não é comunista, é porque você não tem coração. Mas, se aos 40 anos, você ainda é comunista, é porque você não tem cérebro”. Palavras de Carlos Drummond de Andrade. O itabirano estava certo. Eu não deixaria um liberal de 25 anos namorar minha filha, por exemplo, se eu tivesse uma filha. Assim como não aceitaria ser sócio de um comunista com mais de 40. Achei que teria que mudar de opinião quando o Darlei resolveu se filiar ao DEM.
 Drummond está certo, mas Alceu Moretti também está certo. Dias desses, o Secretário de Saúde me confessou que, embora esteja insatisfeito com as ações da esquerda em todo o mundo, e, principalmente, no Brasil, ele não consegue votar em partidos ligados à direita. Segundo ele, “por mais que eu queira, eu não consigo”. Eu sei do que o Alceu está falando. Enquanto a cabeça está convencida dos argumentos de Adam Smith e sua indefectível “mão invisível” do mercado, o coração ainda sente um calor agonizante das teorias do marxismo. A boina, a barba por fazer e as palavras de ordem de Che ainda mexem com nosso espírito juvenil. Mas, caro Alceu, temos todos que crescer. Somos obrigados, um dia, a completar 40 anos, não importando a idade que tenhamos.
Em outubro, irei votar em José Serra. Eu e todas as pessoas com mais de 40 anos que se encaixam nos critérios drummondianos. Com o nariz tampado, confesso, mas vou votar em Serra. E acredito que o Alceu também irá votar em Serra. E por um único motivo. As noções de direita e esquerda não se aplicam ao Brasil, caro Alceu. Quer um exemplo? O PT se elegeu como o apoio do PL e do PCB. Não que Lula tenha inaugurado essa miscelânea partidária. Ele apenas a institucionalizou. Quer um exemplo caseiro? O Ernesto Felipe Blunk, nosso ex-prefeito, ex-Arena, ex-PDS e ex-PFl, hoje, embora se classifique como liberal de direita, é presidente de um partido chamado: Partido Socialista Brasileiro.
Portanto, no Brasil, mesmo votando no PL, por exemplo, continuamos sendo esquerda, pois, no Brasil de hoje, temos apenas: esquerda e centro-esquerda. Feranndo Henrique Cardoso, embora seja chamado de neoliberal, e tenha tentado aplicar a ideia do estado mínimo, e deixado que a iniciativa privada gerenciasse aquilo que só a iniciativa privada pode gerenciar, como a telefonia, por exemplo, se enrolou no processo das privatizações e deixou, como legado, o horror que palavras como essa, privatizações, direita, liberalismo etc. geram em Alceu Moretti, por exemplo.

Entre a barba mal feita de Che, o currículo de Dilma e o “quase direita” José Serra, eu fico com Adam Smith.
Diga: não, obrigado!

Meu presente no último Natal foi um livro chamado “Cinquenta anos a mil”, biografia do compositor e cantor Lobão. Mais do que contar sua própria história - que de tão fascinante já valeria os 59 reais pagos pelo exemplar de 591 páginas – Lobão faz um belo apanhado da famigerada cena musical dos anos 80, e termina por aportar nos dias atuais. Entretanto, o livro não responde à seguinte pergunta – mesmo porque esse não é seu objetivo: Qual foi o exato momento em que a indústria cultural dominou o jogo na música?
Na década de 80, bandas como Legião Urbana, Titãs, Capital Inicial, Kid Abelha, Plebe Rude, Paralamas do Sucesso, Biquini Cavadão, Engenheiros do Hawai, Barão Vermelho entre outras, e artistas como Lulu Santos, Ritchie, Cazuza, Marina Lima e o próprio Lobão, surgiram no cenário musical brasileiro. Surgiram graças a uma pequena rádio carioca chamada Rádio Fluminense que, na contramão do que se pregava à época (na década de 80 as bandas de rock eram tidas como, necessariamente, burras) passou a tocar as demos dessas bandas. Resultado, esses artistas assinaram contratos com grandes gravadoras e povoavam as emissoras de rádio. Entretanto, por essa época, houve a institucionalização da prática do “jabá” que é, tão somente, o pagamento em dinheiro, ou itens promocionais, em troca da execução das músicas de artistas da gravadora pagante. Ou você, leitor incauto, acha que o fato de grandes rádios brasileiras, e programas de televisão também, executarem, durante a programação de semanas, apenas os mesmos 30 artistas, seja o quê? Falta de uma nova safra de artistas?
Hoje, com a democratização de softwares de edição de som, aliada à baixa nos preços de aparelhos eletrônicos, estúdios caseiros brotam aos borbotões pelo país. Isso, somado ao surgimento a internet como um canal acessível para a divulgação dessa produção, faz dessa nossa década uma das mais privilegiadas no tocante ao surgimento de novos artistas. Porém, na contramão disso, as grandes gravadoras, temendo perder o espaço que ainda detém, investe maciçamente na execução de seu material. Resultado? Sucessos nacionais como Luan Santana e essa onda colorida de Restart, Cine e companhia. Quem se limita às grandes rádios e grandes canais de televisão para se abastecer musicalmente, é obrigado a engolir Fernando e Sorocaba como se isso fosse arte. Como conseqüência disso, surge uma deformação em outros canais, tais como as rádios comunitárias. Elas, que poderiam ser uma espécie de oásis, um reduto nesse deserto de talentos, sentem-se obrigadas a imitar as grandes emissoras, executando as mesmas músicas, com o medo de não serem ouvidas. Onde estão as músicas de Léo Lima nas rádios locais? E as músicas do talentosíssimo Gel Show? Cadê Da Rossi e Da Ruan? Yuri e Nando? E a forte cena roqueira que acontece na cidade? Cadê Kravan? Kanaã? Svart Sigatoka? Serotonina? Cadê?

Vivemos uma das décadas mais produtivas musicalmente, entretanto, sofremos as conseqüências do bombardeio de produtos inventados pela indústria cultural. A continuar assim, ficará impossível resgatar o ouvinte de rádio, pois o consumo da arte requer uma dose de educação e exercício. Diga não a Luan Santana, mas seja educado. Diga: não, obrigado!
Stalin do Touchdown

Um dia, o Felipe Rodrigues, o nosso Stalin do Touchdown, me convidou para ir até o campo da Sociedade XV de Novembro. Segundo ele, lá teria uma matéria interessante para se fazer. Chegando lá, descubro que um grupo, ex-jogadores do Jaraguá Breakers, alguns deles corupaenses, estavam com ideia de montar uma equipe local.
Primeiramente, Juliano Millnitz, principal mentor da ideia, fez uma apresentação do esporte, falando das regras e da dinâmica do jogo. Afinal, as pessoas que estava ali presentes não sabiam nada de futebol de americano. Me lembro de ter sentado ao lado do Andy, da Plante Verde. Quando o Juliano passou a falar dos riscos de contusões nesse esporte, o Andy, ironicamente, comentou: “Acho que eu vou é praticar vôlei”. E deve ter ido mesmo, pois não voltou a treinar com a equipe.
Na ocasião, eles estavam em dúvida sobre o nome com que iriam batizar a equipe. Decidiram realizar uma enquete na rádio Amizade, atual Band Fm. Quando eu fui fazer a matéria, precisava nomeá-los. Então, escolhi, por conta própria, o nome que eu achei mais interessante. Na manchete do extinto jornal Folha de Corupá, escrevi: “Vem aí o Corupá Buffalos”.
Confesso que, apesar da obstinação com que Juliano Millnitz falou sobre o projeto de se criar um time aqui, eu não acreditei muito na ideia. Afinal, improvisar o Thiago, excelente ponta esquerda no futebol de campo, como Halfback, por exemplo, não me gerou muita expectativa.
Nas primeiras partidas da equipe, o meu ceticismo prevaleceu. Eles não ganhavam nada. Tanto era assim que, quando o Felipe vinha me falar dos jogos que haviam realizado, a história era sempre a mesma. “Começamos bem. Estávamos ganhando. Mas, aí...” e sempre terminava a história revelando a derrota. Nas matérias que eu escrevia sobre a equipe, usava o mesmo expediente que jornais latino-americanos usavam (isso até o final da década de 80) quando suas seleções jogavam contra a seleção brasileira: “Jogamos como nunca. Perdemos como sempre”. O Felipe ficava bravo com essas palavras. E pedia mais espaço para eles no jornal. Foi então que eu prometi a ele que, quando acontecesse a primeira vitória, eu lhes daria a capa. Meses depois, para cumprir minha promessa, cheguei a discutir com o proprietário do jornal e com o Celso Garcia. As vitórias começaram a aparecer com uma profusão assombrosa. O proprietário da Folha de Corupá, certa vez, me disse: “Nas últimas oito edições, em todas elas o Corupá Buffalos está presente. Você está recebendo dinheiro para falar deles?” ele me questionou.
Me recordo da final do campeonato estadual de 2011. O jogo aconteceria num sábado, mesmo dia em que a Folha de Corupá circularia. Ao pensar na manchete de capa, cheguei a ficar emocionado e escrevi, apenas, “Força, Manada!”. Não adiantou nada e a equipe perdeu a decisão.
Dia desses, aqui em Curitiba, conversei com um atleta da equipe de futebol americano Coritiba Crocodiles. O nome dele é Ivan Basso. Ele ficou feliz ao saber que eu morei em Corupá e conhecia os atletas do Buffalos. A equipe dele já havia perdido, aqui em Curitiba, para a Manada. Quando eu o questionei sobre a qualidade da equipe, ele disse: “É uma das melhores equipes do país”. Com um sobrenome desses, eu fiquei propenso a não acreditar nele.
Mas, o primo de Sandro Basso estava certo.
Parabéns Manada.

PS: Felipe, como o jornal acabou, não posso dar-lhes a capa. Mas, vou pedir ao Carlos Nagel que faça isso por mim.

PS 2: Vai aqui outra promessa: se vocês vencerem o campeonato brasileiro, eu vou dar-lhes a capa, nem que eu precise montar um novo jornal para isso.


O primeiro tiro

“Não acredito no primeiro tiro do brasileiro” disse Raul Seixas. Eu sei, eu sei. Já usei essa citação há uns tempos aqui na coluna. Mas, como ninguém ainda entendeu, voltemos a ela.
Eu vi várias pessoas comemorando o resultado do julgamento do mensalão. Joaquim Barbosa ganhou até status de herói. Ao menos para pessoas como o Almir, da Casa da Carne, que compartilhou com seus amigos do facebook uma foto em que Joaquim aparece sendo retratado como o Batman.
A comparação é desproporcional por vários motivos. Primeiramente, porque não existem super-heróis. Segundo, porque ele fez apenas o trabalho dele. Terceiro, porque o resultado geral do julgamento será pífio. Irão prender dois ou três idiotas, que servirão como bodes expiatórios, e pronto. O resto permanecerá intacto. Eles podem montar outro mensalão amanhã. Eles têm tudo pra isso. Se o Lula não está sendo julgado, o julgamento já é uma palhaçada.
Essa festa em torno do Barbosa, me lembra aquelas pessoas que entram nos coletivos e dizem: “Eu poderia estar matando, eu poderia estar roubando, mas estou aqui, vendendo essas balas”. Grande mérito dessas pessoas, não? Elas estão lado a lado com São Francisco de Assis. Mas assim somos nós. No Brasil, se não matou e não roubou, já é motivo para uma beatificação. Uns, ainda matando e roubando, passam por santos ou heróis.
Mais exemplos disso? Chico Buarque é considerado, por aqui, como um grande escritor.
Você quer mais? Então segura.

Roberto Zeininger criou, há uns meses, um grupo de discussão no facebook. Alguns indignados postam lá uns comentários, outros replicam e, assim, acreditam que irão mudar o mundo. Eis o primeiro tiro o brasileiro. Para ratificar a frase de Raul Seixas, o grupo irá acabar ainda esse ano. Mas, claro, não sem antes uma meia dúzia, entre eles, talvez, Jussara de Carvalho, Anderson Raduenz, Marcia Kifer e Dani Wolff, por exemplo, lutarem bravamente para a não extinção do grupo.
A guerra dos mundos

Em 1938, Orson Welles produziu uma transmissão radiofônica intitulada “A Guerra dos Mundos”, adaptação da obra homônima de Herbert George Wells e que ficou famosa mundialmente por provocar pânico nos ouvintes que imaginavam estar enfrentando uma invasão de extraterrestres (ocorreram, inclusive, suicídios). Um Exército que ninguém via, mas que, de acordo com a dramatização radiofônica, em tom jornalístico, acabara de desembarcar no nosso planeta. A fama do jovem Welles começava.
Depois disso, produziu “Citizen Kane”, retratando o poder da comunicação, baseado na história do milionário William Randolph Hearst. A BBC de Londres aproveitou o gancho e produziu um documentário chamado “Para Além do Cidadão Kane”, escancarando os podres de Roberto Marinho e sua poderosa Rede Globo.
No último dia 27 de março, a tradição iniciada por Orson Welles voltou a agir. A mídia divulgou o evento chamado “A Hora do Planeta”. Os adeptos apagaram as luzes por uma hora. Mas, para não ficarem no escuro, acenderam velas, feitas de parafina, que é um derivado do petróleo (combustível fóssil). Foi divulgado que a adesão chegou a 1 bilhão de pessoas. Os mentores do Instituto Rã-Bugio, talvez entediados com o modorrento coachar de suas rãs, resolveram fazer algumas contas acerca desse movimento.
No blog da instituição, há um texto intitulado “Hora do Planeta agrava aquecimento global”. Segundo as contas do blog, uma vela de 20 gramas de parafina dura, aproximadamente, 1 hora. Então, foram consumidas, durante o ato no último dia 27, em apenas uma hora, 20 mil toneladas de parafina (1 bilhão multiplicado 20 gramas). Isso equivale a 4 meses de consumo de parafina de um país como o Brasil, que, anualmente, consome 60 mil toneladas. E qual foi a poluição produzida por estas velas? O blog Physical Insights apresentou um cálculo das emissões resultantes da queima de vela de parafina durante uma hora: 10,7 gramas de dióxido de carbono. Multiplicando este resultado por 1 bilhão (uma vela acessa por pessoa), teremos a emissão de 10,7 mil toneladas de dióxido de carbono.
Na Austrália, mais de 80% da energia elétrica é gerada por termoelétricas a carvão e derivados de petróleo (combustíveis fósseis), enquanto no Brasil mais de 90% da energia elétrica é gerada por hidrelétricas. Mesmo na Austrália, o blog Physical Insights mostrou, através dos cálculos, que cada participante da campanha "Hora do Planeta" emitiu 10 vezes mais dióxido de carbono ao usar luz de vela em vez de lâmpada.
Por falar em aquecimento global, os meteorologistas associam o CO2 ao derretimento da calota polar ártica. A calota polar ártica, de acordo com todos os cálculos, deveria estar diminuindo. Mas, o que mostram as imagens de satélite, nos últimos anos, é, exatamente, o oposto. Em 2010, há mais gelo do que em 2009. Em 2009, havia mais gelo do que em 2008. Em 2008, havia mais gelo do que em 2007. A calota polar ártica, neste momento, cobre praticamente a mesma área de 1996, exceto por um ou dois pontos. O que eu sei sobre aquecimento global? Eu sei que, antes de ontem, os meteorologistas do site Clima Tempo calcularam que a temperatura mínima, em Corupá, chegaria a 22 graus. Na realidade, ela foi de 20,6 graus. Se os meteorologistas, de um dia para o outro, cometem um erro desse tamanho, como posso confiar em seus prognósticos para 2050 ou, pior ainda, para 2100?