sábado, 6 de dezembro de 2014

O Gato Paraquedista

        Quem é que não conhece a história da “Bela Adormecida”, da “Chapeuzinho Vermelho”, do “Gato de Botas”, da “Gata Borralheira” e tantas outras? O escritor dessas e de inúmeras outras histórias foi Charles Perrault, um francês nascido no século XVII.
        Agora, quero saber quem é que conhece a história chamada “O Gato Pára-quedista”. Os escritores dessa história são bem mais recentes do que Perrault. São os nossos contemporâneos Coni Müller e Sandro Basso. Para quem não conhece o talento ficcional dos dois, eu explico.
No último dia 15, aconteceu a inauguração de uma sala de aula na Escola Francisco Mees. O prefeito, ao se pronunciar, contou a seguinte história:  “Era uma vez uma comunidade de ratos constantemente perseguida por um gato. Certa vez, um dos ratos teve a idéia de colocar um guizo no pescoço do gato para que, quando ele fosse atacar, os ratos pudessem ouvir o barulho e fugir. Aí então um dos ratos fez a fatídica pergunta: Quem terá coragem para colocar o guizo no pescoço do gato?”    
O objetivo do prefeito, ao contar essa história, era produzir uma metáfora onde a comunidade de ratos perseguida é formada por ele próprio e sua trupe, enquanto o papel do gato cabe à oposição, incluindo o jornal Folha de Corupá e, porque não, esse que vos escreve.
No mesmo dia, mas em outro lugar, Sandro Basso conversava com um amigo. Sem assuntos mais interessantes para tratar, falavam sobre mim. Segundo Sandro, eu não passo de um reles “pára-quedista”. Esse adjetivo faz alusão ao fato de eu não ser natural de Corupá.
Então, aí está montada a história: “O Gato Pára-quedista”. Se você, mãe, não aguenta mais contar as mesmas histórias para os seus filhos, aqui vai uma sugestão: “O Gato Pára-quedista”. Essa história pode servir, também, para fazer com que eles te obedeçam à força do medo. Se não quiserem tomar banho, basta amedrontá-los dizendo que, se não forem, o “Gato Pára-quedista” virá pegá-los. É zás-trás, os pequenos correm para o chuveiro. Não querem comer verdura? Olha que eu chamo o “Gato Pára-quedista”.
Na verdade, esse medo já está difundido em parte da população corupaense. Nos raros eventos sociais que acontecem, ninguém quer ficar perto de mim. Espreitam-me de longe, apontando: “olhem lá o Gato Pára-quedista”.
Se Coni e Sandro tivessem o mesmo talento em suas respectivas atividades como têm para criar histórias, um não estaria sendo investigado por um CPI e o outro não editaria um pasquim de quinta, com mais erros gramaticais do que um texto de uma criança do primário.
Celita Paterno, Chefe da Divisão de Educação, certa vez me disse que tinha a intenção de fundar uma Academia Corupaense de Letras. Eu sugiro os nomes do presidente e do vice: Coni Müller e Sandro Basso. Assim, com os dois bem ocupados nos preparativos das atividades concernentes a uma academia, como os famosos chás, a prefeitura se livra das trapalhadas de um e a cidade se livra do catálogo de erros gramaticais do outro. Todo mundo ganha.

Quando isso acontecer, aí então eu monto o meu pára-quedas e vou miar em outra freguesia. Afinal, como diz Chico Buarque: “Nós gatos já nascemos pobres, porém, já nascemos livres...”
Aventureiro em busca de sensacionalismo


Segundo o prefeito e seus assessores, é isto o que eu sou: “um aventureiro em busca de sensacionalismo” e mais, em relação ao jornal Folha de Corupá, eles dizem que não passa de um “panfletim feito no fundo de quintal”, “mantido com migalhas oriundas de fofocas maldosas”. E mais: sou “inescrupuloso”, “caluniador” e “difamador”, e tenho como único objetivo “esculhambar com a atual administração” e que, portanto, “mereço ser exemplarmente punido”. Esses são alguns dos adjetivos usados pelo prefeito e seus assessores no processo movido contra mim. Tudo bem. Cada um pode achar o que bem entender de mim. O Coni pode até falar mal do meu corte de cabelo. A Alice Maçaneiro pode achar que sou magro demais. O João Imbriani pode não gostar do modo como eu me visto.  A Celita Paterno pode até dizer que tenho mau hálito. Sandro Basso pode me chamar de Débil Mental. Tudo bem. A vida é assim. Mas, uma coisa é preocupante. Todos esses nomes que citei acima, exceto Sandro Basso, e mais os nomes de Denise Henn, Luiz Cieply, Ademar Machado, Diana Seidel, Lane Weidner, Oto Weber, João Gotardi, Adriano Hofmann, Juliano Scandolara, James Hernandez, Walfrido Weber, Jota Luiz, Ana Lúcia Siqueira, Claudete Gabriel, Maria Giraldi, Reginaldo Ropelato, Luciana Signoreli, Leandro Moldenhauer, Júlio Dominoni, Aldo Sell, João Sobrinho, Paulo Ruthes, Jean Marcel, Emanuelle Blunk e Evelia Sell, estão de acordo com uma queixa crime contendo, dentre outras, a seguinte alegação: “...qualquer irregularidade que por ventura venha a surgir decorrente da referida administração, será discutida por pessoas competentes em seus respectivos órgãos...”. Não estou muito familiarizado com termos jurídicos. Expressões como “animus diffamandi vel calumniandi” ainda me são estranhas. Mas a alegação acima eu já consigo compreender. Eles querem dizer que, se o prefeito trapalhão fizer mais uma de suas trapalhadas bizonhas, tal como comercializar bebida alcóolica, a imprensa não deve dizer nada. Devemos esperar que a questão seja discutida “por pessoas competentes em seus respectivos órgãos”. Acho que estou entendendo. Se o Secretário de Obras levar pra casa as lajotas da prefeitura, não devemos noticiar. É isso? Se uma promessa de campanha não for cumprida ou uma prestação de contas vier recheada de irregularidades, caluda, meu bem, caluda?
A audiência está marcada para julho. Manterei vocês informados sobre o desfecho dessa história. Dia desses, vi, em alguns carros na cidade, um adesivo com a seguinte frase: “Deixa o homem trabalhar”. Há alguns meses, nessa coluna, tracei um paralelo entre Coni e Lula. Agora, mais uma característica em comum. Lula usou esse mesmo slogan em sua campanha à reeleição. Estou começando a ficar preocupado. Oxalá as semelhanças parem por aí. Afinal, como vocês sabem, Lula foi reeleito e escapou de todas as CPIs. E por falar em trabalhar: Coni, deixa o Benedito trabalhar!
“Isso chama-se austeridade”.

Dia desses, fui convidado pelo Assessor de Imprensa da Prefeitura, (lembram dele? Não? Tudo bem, eu repito seu nome: Eduardo Mendes), para participar de uma coletiva de imprensa. Transcrevo aqui o convite: “Convite ao Benedito” (olha só a intimidade). “Pois bem. Aproveitamos para convidá-lo para a coletiva de imprensa, cujo tema será auditoria, nesta quinta-feira às 09h. na Prefeitura Municipal de Corupá. A partir desta o sr. terá todas as informações a despeito para fazer seus comentários. Eduardo Paz Mendes.” Essa mensagem estava endereçada somente a mim, como é possível perceber pelo cabeçalho do email. Os outros receberam outro tipo de convite. Chegando à prefeitura, fomos ao gabinete do prefeito, que passou a despachar em outra sala. Na coletiva, havia umas oito pessoas da imprensa, mais o Sec. de Finanças Adriano Hofmann e o Assessor de Imprensa (supracitado) Eduardo Mendes. Alguém comentou que a prefeitura poderia ter providenciado, além do café oferecido, uns biscoitos também. Essa turma é assim mesmo. Acostumada a receber favores do Estado. Só sobrevivem à custa do Estado. Faliriam sem a ajuda do Estado. Por isso estavam lá, atendendo, prontamente, ao chamado. Antes mesmo que Adriano se manifestasse em relação ao pedido de biscoito, o mais novo “soldado da força municipal”, Eduardo Mendes, tomou a frente e defendeu a atual administração, dizendo: “Não temos biscoito. Isso chama-se austeridade”. Realmente, essa administração preza pela austeridade!
Vamos às “Atitudes Austeras” da prefeitura:
1-      Mantém uma Assessoria de Imprensa que, além de produzir textos com a qualidade do transcrito acima, precisaria apenas de uma telefonista para fazer todo o trabalho. Isto é, ligar para quatro ou cinco jornais, duas ou três rádios e pronto. O salário de apenas um mês de Eduardo Mendes daria para comprar vários quilos de biscoito. Daria pra encher a pança de toda a imprensa da região, por várias e várias coletivas.
2-      - O Sec. de Finanças, Adriano Hofmann, já exerceu esse mesmo cargo na prefeitura de São Bento do Sul. E deve ter exercido o cargo com tamanha competência que o nosso Prefeito, Conrado Urbano Müller, o premiou com um cargo aqui em Corupá. Certo? Errado! Adriano Hofmann foi demitido da prefeitura de São Bento do Sul por justa causa, através de um Processo Administrativo. O que ele fez para merecer isso? Dentre outras coisas, deu baixa em impostos não autorizados, num total de R$ 148.572,72, segundo consta em seu processo.
3-       - Seguindo a trilha da “austeridade” da atual administração, alardeada por Eduardo Mendes, chegamos no mês de Novembro de 2006, quando o Coni criou um cargo chamado Diretor Administrativo, com um salário de R$ 2.400,00, e nomeou quem para ele? Algum corupaense? Não, seu bobão! Coni escolheu Adriano Hofmann!
4-       - A prefeitura tem: o Controle Interno, a Câmara de Vereadores e mais o Tribunal de Contas do Estado para analisar as contas da administração. Quando precisa de uma análise, o que ela faz? Recorre a eles? Não! Ela contrata uma empresa particular no valor de 72 mil reais! Haja austeridade!
Austeridade, para Eduardo Mendes, é não oferecer biscoito para a imprensa. Para mim, seria o Controle Interno ter analisado as contas, economizando 72 mil, demitir Eduardo Mendes (economizando mais uns trocados), aí então tratar a imprensa só à base de biscoitos finos, chás indianos, cadeiras macias, e coletivas só depois das 10 da manhã.

Isso sim chama-se  austeridade!
Décadence avec élégance

O melhor filme a que eu já assisti na vida, até hoje, foi “Os Imperdoáveis”, de Clint Eastwood. Eu já vi a esse filme, de 1993 até hoje, sem exagero, umas 128 vezes. Decorei todas as falas, todas as cenas, luzes. Tudo. Não entendo nada de cinema, mas sou Phd em “Os Imperdoáveis”. Em determinada altura do filme, como em todo faroeste, chega o momento crucial em que Clint Eastwood, um cowboy sangue frio do Missouri, e Gene Hackman, um xerife desonesto, se enfrentam e lançam mão da célebre frase: “Essa cidade é pequena demais para nós dois.”

Corupá, em vários aspectos, faz lembrar aquela remota cidade do Wyoming onde o filme foi ambientado. Não fosse os cabelos brancos, Sandro Basso seria o próprio Gene Hackman. Até as histórias dos dois tem ligações. Hackman, após ter saído de casa aos 16 anos, foi fazer jornalismo na Universidade de Illinois, aí resolveu abandonar a faculdade e fazer um curso técnico de rádio. Por fim, resolveu tentar a carreira de ator e se matriculou na Pasadena Playhouse, na California. A Secretaria de Educação voltou a oferecer curso de teatro. Sandro Basso poderia se inspirar na vitoriosa trajetória de Gene Hackman e ir estudar artes cênicas. Já ficou provado que jornalismo e rádio não são a praia de Sandro Basso. Quem sabe ele, tal qual Hackman, descubra sua real vocação. Na última edição do Jornal de Corupá (alguém chegou a ler?) a primeira manchete é: “União faz a força.” Essa manchete é o suprassumo da falta de criatividade. É quase um antijornalismo. Essa expressão está mais gasta do que a fórmula mocinho-bandido dos Faroestes. Mais gasta que o já estereotipado tema de redação: “Minhas férias.” Vou lançar uma campanha e conto com a sua ajuda, leitor. O mote da campanha será: “Queremos Sandro Basso fazendo teatro.” Seria uma despedida gloriosa. O que está lastimável é ver Sandro Basso e seu Jornal de Corupá publicando matérias com até 30 dias de atraso. Sandro me lembra o Garrincha em final de carreira. Gordo, sem habilidade, vivendo apenas do nome e daquilo que ele foi um dia, e já sem o menor tato com a bola. O Ronaldo Fenômeno está incorrendo no mesmo erro que Garrincha e Sandro Basso. Deu pena ver o Ronaldo matar de canela as duas bolas que, em quase 30 minutos, ele conseguiu chegar. Se o exemplo de Gene Hackman não seduz Sandro Basso, sugiro que siga os conselhos do cantor e compositor Lobão: "Décadence avec élégance."



Se você fosse sincera, ôôôôôô, Aurora


O Carnaval começa amanhã. Não vou poder viajar. E como eu não vou poder viajar, vou dizer a quem me perguntar que não gosto de carnaval. Vou dizer que não queria mesmo viajar. Igual aquela velha história das raposas e das uvas. Ou da história, mais recente, de Sandro Basso, dizendo que não se importa com a velocidade da informação. Já que uma viagem está fora de cogitação, tratei de pegar emprestado um bom livro de Machado de Assis para me fazer companhia nesse feriado prolongado. Escolhi a “Teoria do Medalhão”.
Sei que é difícil achar quem goste de Machado de Assis. Sei que muitos o acham aborrecido. Entretanto, ler Machado de Assis nos ajuda, até, a entender certas coisas que acontecem bem perto de nós. E pode, inclusive, nos livrar de certas situações constrangedoras. Quer ver?  O vereador João do PT não leu Machado de Assis. Se leu, não entendeu a ironia ou não leu o que deveria. Se tivesse lido, não teria feito o papelão que fez durante a primeira sessão ordinária do ano na Câmara de Vereadores.
Se João do PT tivesse lido a “Teoria do Medalhão”, por exemplo,  de Machado de Assis, ao invés de ter lido “O Manifesto Comunista”, ou “Raízes do Brasil”, ou ainda “O Capital”, ele não teria usado a tribuna para condenar algo que ele mesmo praticou.
Não precisaria ter lido o livro todo. Embora curto, poderia ter lido apenas alguns parágrafos. Seria o suficiente para livrá-lo da situação embaraçosa que ele teve que enfrentar no último dia 16.
Se João do PT não vai ao Machado de Assis, Machado de Assis vem ao João do PT.
O parágrafo redentor a que eu me referi é o que segue abaixo:

“- Se for ao Parlamento, posso ocupar a tribuna?
- Podes e deves; é um modo de convocar a atenção pública. Quanto à matéria dos discursos, tens à escolha: - ou os negócios miúdos, ou a metafísica política, mas prefere a metafísica. Os negócios miúdos, força é confessá-lo, não desdizem daquela chateza do bom-tom, própria de um medalhão acabado; mas, se puderes, adota a metafísica; - é mais fácil e mais atraente. Supõe que desejas saber por que motivo a 7ª companhia da infantaria foi transferida de Uruguaiana para Canguçu; serás ouvido tão somente pelo ministro da Guerra, que te explicará em dez minutos a razão desse ato. Não assim a metafísica. Um discurso de metafísica política apaixona naturalmente os partidos e o público, chama os apartes e as respostas.”
O grifo é meu. De mim para João. Com afeto.
Para quem prefere pular carnaval e não leu, e nem vai ler, a “Teoria do Medalhão” de Machado de Assis, e tampouco esteve presente à Câmara no último 16, saiba que o ponto que une esses dois assuntos é o seguinte: João do PT já declarou, em outras ocasiões, que nunca usou contas adiantamento ou diárias, enquanto ocupou a Chefia da Divisão de Esportes. Acontece que a Presidente da Câmara, a vereadora Margot Hauffe, preparou um farto material onde fica comprovado que, diferente do que o vereador diz, ele usou sim, enquanto Chefe da Divisão de Esportes, tanto as diárias quanto as contas adiantamento. Inclusive com valores acima de mil reais. João do PT não deu ouvidos ao Machado de Assis e foi tratar de “negócios miúdos”. Deu no que deu. Preferisse a metafísica, tal como falar do Partido dos Trabalhadores, como de fato deu indícios de que faria, teria evitado a dolorosa e primeira lambada da nova legislatura. Muitos podem achar esse episódio irrelevante, mas não é. Ele pode, inclusive, direcionar as futuras votações. O mancebo Sidnei Schwerdtner está em busca de um líder. Pensou ter achado esse líder no João do PT. Mas, ao ver a primeira investida do futuro mestre dar em nada, é possível que tenha repensado sua decisão.
Sei que se ele olhar para o seu lado direito, as ofertas não são muita melhores. Isso pode, inclusive, resultar em algo pior. Ele pode eleger como seu guru o Everaldo Mokwa. Para os que gostam de Machado de Assis, o texto acaba aqui. Para quem gosta de carnaval e do PT, segue uma marchinha:
“Se você fosse sincera
Ô ô ô ô Aurora
Veja só que bom que era
Ô ô ô ô Aurora”.





Não elogio mais


Na última terça-feira, eu assisti ao amistoso da seleção brasileira contra a Itália. Em determinada altura do jogo, resolvi, gratuitamente, e sem nenhum propósito, elogiar a narração de Galvão Bueno. Não gosto do Galvão Bueno. Pelo contrário. Acho ele intragável. Eu o vejo como uma espécie de filósofo do óbvio. Eu estou vendo que a bola foi lançada. Não preciso da ajuda dele para perceber que bola foi a escanteio, por exemplo. Não se passaram cinco minutos para que eu me arrependesse de tê-lo elogiado. E o arrependimento me atacava agudamente a cada vez que ele insistia em chamar o goleiro da Itália, cujo nome é Gianluigi Buffon, de “Gianluca” Buffon. Se ele estivesse narrando um jogo qualquer, como Joinville e Figueirense, por exemplo, e tivesse chamado de Fábio, ao invés de Fabiano, o goleiro do Joinville, tudo bem. Acontece que estamos falando do goleiro mais famoso do planeta, o campeão da última Copa. O goleiro da Itália em 1994, sim, era Gianluca, o Pagliuca. Bem feito pra mim. Elogiar é sempre perigoso. Na coluna da edição 35, de 24 de janeiro, eu incorri no mesmo erro. Gratuitamente, e sem nenhum propósito, eu elogiei a atitude do vereador João do PT por ele ter chamado à câmara o senhor Norberto Müller, para prestar esclarecimentos sobre a prestação de contas dos Bombeiros. Fiz mais que isso. Disse que ele havia começado bem. Eu não aprendo mesmo. Foi só elogiar e ele fez lambança. João do PT é o Galvão Bueno da massa sindical. É o  nosso filósofo do óbvio.
Na sessão seguinte àquela a qual eu o elogiei, o vereador achou por bem dar um parecer apartado ao projeto enviado pelo executivo que pretendia aumentar as diárias do Prefeito, do Vice e dos Secretários Municipais. João do PT achou que aumentar de R$ 150,00 para R$ 200,00 a diária dos secretários; e de R$ 250,00 para R$ 300,00 a diária do Prefeito e do Vice era um exagero. E disse mais. Disse que em tempos de crise econômica, não soaria bem um aumento. Acontece que apenas uma coisa torna insustentável o argumento do João PT. Essa coisa é o valor da sua própria diária. Se João do PT for a Florianópolis em busca de algum recurso - o que eu considero uma atitude louvável, pois acredito que essa seja uma das principais funções de um homem público, sobretudo quando de um município com pouca verba como é o nosso caso - ele receberá uma diária de exatos R$ 300,00. Os mesmos R$ 300,00 que, se dados ao prefeito, é muito. Sugiro, então, que, para o bem da economia mundial, João abra mão de sua diária. Vai a São João do Itaperiú? Que frete um jubaio manco. Com certeza, os 300 reais seriam mais do que suficientes. Sandro Basso sabe do que eu estou falando. Ele elogiou o pedido de vistas do Dr.º Marcelo. Uma semana depois, o médico voltou atrás e desapontou Sandro Basso. Não elogio mais ninguém. Nem se Sandro Basso aprender que um parecer é apartado, e não “aparteado” ou o João do PT aprender a comparar valores.






A velocidade da informação



Eu gastei 35 reais e já mandei emoldurar a última edição do Jornal de Corupá, de Sandro Basso (alguém aí se lembra da última edição? É que ela saiu já faz certo tempo). A edição que vai ganhar, além de uma moldura, um espaço na parede da minha sala, é aquela que saiu no último dia 09 de fevereiro e trazia uma matéria sobre a posse do atual prefeito, acontecida dia 01 de janeiro.  O texto intitulado “Registrando a história de Corupá”, na página 2, diz “... o Jornal de Corupá não se preocupa com a velocidade da informação, ... serve como um documento histórico mensal dos fatos mais importantes que acontecem em nossa cidade...”. A prova dessa última afirmação é facilmente encontrada. Na página 12 da mesma edição, Sandro Basso registra um dos fatos mais importantes da história de Corupá, desde a eleição de Tito Steingraeber ou da instalação do município, em 25 de julho de 1958. Ele usa um quarto de página para dizer que o Darlei saiu do PMDB e foi para o PSDB. Ouvi dizer que o New York Times, nesse dia, ficou indeciso entre essa manchete e a posse de Barack Obama.
Diante da declaração de Sandro Basso, quando ele diz não se preocupar com a velocidade da informação, uma curiosidade me assalta. Com o que Sandro Basso se preocupa? E ele parece ser uma pessoa muito preocupada, a contar pela brancura precoce de suas madeixas. Será a Reforma Ortográfica? O preço do papel? A produção do gás sulfúreo? Para que você pudesse ler, aqui em Corupá, no conforto de sua poltrona, que centenas de pessoas saíram em protesto ao Hamas, nas ruas da cidade paquistanesa de Dera Ghazi Khan, ou para que você pudesse, através de um único clique, saber pela internet que civis enfrentam falta de alimentos no Sri Lanka, devido às ofensivas do Exército de Libertação dos Tigres do Tamil Eelam”, anos de pesquisas foram gastos e bilhões de dólares foram investidos. Tudo porque o mundo moderno admite, com exceção de Sandro Basso, que a velocidade na informação é fundamental.
Sandro Basso me lembra Shoichi Yokoi, aquele soldado japonês, encontrado escondido na ilha de Guam, 27 anos após o término da Segunda Guerra Mundial, sem saber que a guerra havia acabado. Se dependesse de Sandro Basso, e de seu mensal Jornal de Corupá, o pobre japonês ainda estaria na ilha de Guam, paranóico, combatendo os miseráveis Yankes. Sandro Basso diz que o objetivo de seu jornal é apenas registrar os fatos, sem preocupação com a velocidade. Eu sugiro que, paulatinamente, ele dê maiores intervalos na periodicidade de seu jornal. Bimestral. Semestral. Anual. Por fim, edições apenas em anos bissextos. Assim, com esse intervalo, talvez apareçam notícias tão importantes quanto a troca de partido do Darlei.
Neguinho

“... neguinho compra 3 TVs de plasma, um carro, GPS e acha que é feliz...” Eis um trecho da música “Neguinho”, de Caetano Veloso, cantada por Gal Costa, no Cd “Recanto Escuro”, lançado ano passado.
Eu já tinha perdido as esperanças em Caetano até ouvir esse seu último trabalho. Assim como já tinha perdido as esperanças nas inovações tecnológicas até conhecer o GPS. Por conta do trabalho de minha mulher, ela teve que adquirir um aparelho desses. Minha relação com a tecnologia sempre foi tardia. O primeiro computador? Eu tinha 23 anos (hoje tenho 36). Mp3? Há 3 anos. O primeiro Notebook? Há um ano. Iphone? Ainda não cheguei lá.
Na verdade, esses meus 18 anos em Curitiba já me deram uma grande autonomia para transitar pela cidade toda sem o auxílio de um GPS. Mas o uso que eu faço do aparelho é outro. A voz aveludada que vem com a marca do aparelho escolhido por minha mulher me é uma companhia no trânsito. Mesmo nos caminhos mais conhecidos, lá vou eu digitar o endereço para dirigir acompanhado. “Prepare-se para fazer uma curva levemente à esquerda a 300 metros”. Lá vou eu obedecer aquilo que, hoje, devido à familiaridade, já parece ser a voz da minha consciência. E essa companhia tecnológica tem suas vantagens. Se eu erro o trajeto, por exemplo, nada de bronca. Apenas uma singela e complacente frase: “recalculando a rota”. Mas, como a engenhoca é uma criação humana, não haveria como não trazer resquícios de nossa personalidade. Por vezes, o aparelho lembra minha mulher. “Você está acima do limite de velocidade”. Dessa vez, a voz não tem candura ou complacência alguma. É quase a voz de uma ordem policial. Atônito, desacelero logo. Já minha mulher (embora ela tenha pedido para não contar) tem uma reação diferente. Dia desses, eu a surpreendi discutindo com o aparelho. “Eu vou é reto. E outra coisa, o limite de velocidade nessa rua é 60, e eu estou a 50 quilômetros por hora, ouviu?” disse minha mulher, enraivecida. Quando a questionei sobre a possibilidade desse ato, conversar com um objeto inanimado que nunca irá servir-lhe de interlocutor, ser um sintoma de uma patologia, minha mulher veio com esta: “Já estou acostumada. É bem parecido quando eu falo com você enquanto você está assistindo televisão. E ainda com uma vantagem. O Gps não me responde de forma ríspida se eu exagero no tom”.
O aparelho traz três opções de voz, duas femininas e uma masculina. A primeira, eu usei somente uma vez. Ela me causa arrepios. Me lembra uma antiga professora, a Dona Niúra. Quando eu executo uma manobra diferente da ordem dada, eu antevejo, e pareço ouvir de fato, a repreensão. “Entre à esquerda na próxima rua”. Continuo reto. Pareço ouvir a professora da infância: “mas que menino teimoso. Você não me ouviu dizer à esquerda? Estou falando grego?”. A voz masculina me parece um locutor de rádio FM. “Entre à direita. E vamos juntos até chegar o destino, num oferecimento da funerária ...” Não dá. Como vou conseguir dirigir ouvindo uma espécie de filial da rádio Caiobá FM?
O aparelho tem, também, algo de místico, de transcendental. É quase religioso. “Eu o guiarei até o seu destino”. Quase profético. Dia desses, digitei: “qual será o meu destino”. Ao que a máquinas respondeu: “Jamais saberás!”

 “... neguinho compra 3 TVs de plasma, um carro, GPS e acha que é feliz...”
O mundo está ao contrário e ninguém reparou

“O mundo está ao contrário e ninguém reparou” diz a composição de Nando Reis, interpretada pela saudosa Cássia Eller. Que o mundo está ao contrário ninguém pode ter reparado, disso eu sei, mas o que veio de gente reclamar comigo pelo fato de a coluna da edição passada ter saído ao contrário (de cabeça para baixo) foi um colosso.
“Você ficou maluco, Benedito?” me disseram os mais exaltados. “Ficou difícil de ler, tive que virar o jornal e me contorcer inteira” disseram os mais preguiçosos. “Nem li”, deve ter dito o Coni e outros neurastênicos.
Na verdade, ter publicado a coluna de cabeça para baixo (ou de ponta-cabeça, como se diz no Paraná) foi apenas uma introdução pictórica, utilizando o corpo do texto e seu espaço gráfico como uma ferramenta plurívoca, multisignificante, para evocar a semiótica do contraste, blá, blá, blá ... Que nada, foi coisa de quem não tem o que inventar. Perdão a quem fiz doer o ciático no malabarismo para ler a coluna. Prossigamos ...
Eu já falei aqui que, quando eu tinha apenas uma antena parabólica, sentia necessidade de uma antena interna, para assistir ao Jornal do Almoço, saber das notícias da região e ouvir os comentários do Prates. Depois, passei a ter acesso, somente, à programação regional, inclusive aos comentários do Prates. Foi aí que minha ânsia por uma parabólica voltou a ganhar força. Mas, as coisas mudam, sempre. Uma antena interna, por favor.
Durante essa campanha eleitoral, tenho que me contentar em ouvir os programas eleitorais apenas pelo rádio, pois não tenho antena interna para assistir ao horário político pela televisão. Mas, na última quarta-feira, tive o prazer de assistir ao meu primeiro programa desse ano. Na casa de amigos, com cerveja e petiscos? Nada. Na cadeira de um consultório odontológico. Confesso. Extrair um molar deve ser menos dolorido do que aturar, por exemplo, o jingle do candidato a deputado estadual pelo PPS, o catarinense Claudir Maciel. Trata-se de uma paródia mal feita da música “I Want to Break Free”, da banda inglesa Queen. Ou então ouvir a versão de “Rebolation” “... O Dalvesco também "é bom bom bom ..." do socialista catarinense Cláudio Dalvesco, candidato a deputado estadual. Tudo bem, eu sei que nada supera a paródia feita de "Beat it", do Michael Jackson, criação do democrata paraibano Lindolfo Pires, candidato a deputado estadual. Vocês perderam esse programa? Não tem problema, basta procurar no youtube. São os vídeos mais acessados desses últimos dias.
Durante o meu tratamento, eu soltei vários e ruidosos “Ai, ai, ai”. O dentista logo parava, cuidadoso, pensando que eu estava reclamando de dor no dente, quando, na verdade, o que me doia eram os ouvidos, ao ouvir tanta bobagem.
Pior que isso, somente quando a televisão passou a falar sobre o jogo que aconteceria naquela noite, entre Flamengo e Grêmio. O dentista, que até então estava tratando do meu canino, passou, lepidamente, a tratar do molar inferior. “Ai, ai, ai” gritei. Enquanto ele, serenamente:
- Não fica com medo, não. O Mengão leva essa fácil!

“Ai, ai, ai ...”
Mudança

Na última segunda-feira eu mudei. Quer dizer, mudei de endereço. Me mudei de apartamento. Para outro apartamento. Outro apartamento menor, inclusive. Afinal, nem todas as mudanças são para melhor. Apesar do cansaço, pois tive que ajudar a carregar os móveis, eu gosto de mudanças. Mudanças em todos os sentidos. Encaixotando o que havia pra se encaixotar (só nas mudanças é que nos damos conta do tanto de coisas inúteis que guardamos ao longo do tempo) me deparei com algumas fotos antigas. Percebi, então, como é a que a gente também muda ao longo do tempo. Fotografias de eu menino ainda, no remoto bairro do Aeroporto, na interiorana cidade de Londrina, interior do Paraná, que foi onde eu nasci. De lá, traga ainda, além de umas fotos, o “r” puxado, em palavras como “porta” e “portão” (que muitas gozações me renderam aqui em Curitiba, onde passei minha adolescência) e uma saudade de algo que eu ainda não consigo definir. Quem conhece Londrina talvez entenda o que eu estou falando. Na verdade mesmo, não precisa conhecer Londrina para entender o que eu estou falando. Basta ter mais de 30 anos. A saudade, na verdade, são dos sonhos de infância, das idealizações, do futuro que havíamos planejado. Meu filho, de 10 anos, me vendo manusear uma foto, pergunta: “Quem é esse?” apontando para uma das fotos. “- É o papai”, eu respondo. Depois disso, ele sai e vai desarrumar algo que eu e minha mulher já havíamos arrumado. Eu fico ali, olhando para a foto e pensando na minha resposta. Só desperto quando minha mulher grita pedindo minha ajuda com a geladeira. Reviro documentos e contas antigas, e me lembro das preocupações que elas me geraram. Hoje, são passado. E eu continuo vivo. E mais. Vivo e mudando. Mudando sempre. Claro, às vezes para pior.